Editorial

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O futuro já chegou ou, pelo menos, está chegando para as bibliotecas. Especialistas são unânimes: faz tempo que as instituições deixaram de ser apenas local para empréstimo de livros — a tendência é expandir a área de atuação, tornando-se centros culturais de acesso ao conhecimento, viabilizando ao público a oportunidade de conferir espetáculos, palestras, bate-papos e, mais que tudo, conviver.

A edição 54 do Cândido traz uma reportagem especial sobre o assunto. Bibliotecários brasileiros foram indagados a respeito de como será a biblioteca, pública ou não, no futuro. Há várias opiniões. O professor aposentado da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Paulo da Terra Caldeira observa que, para se tornar um centro cultural, as bibliotecas devem contar com amplos espaços e instalações adequadas e acessíveis, mobiliários confortáveis, novos e atraentes, com redes eletrônicas, equipamentos e terminais atualizados — um exemplo disso é a Biblioteca de Kista [foto], localizada em um subúrbio de Estocolmo (Suécia), eleita a melhor do mundo pela Federação Internacional de Associações de Bibliotecas (IFLA), em 2015.

Já a coordenadora do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), Regiane Alcântara Eliel, afirma: “A tendência é que as bibliotecas, não apenas as universitárias, se tornem espaços para atividades práticas de construção de conhecimento e informação.” O professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, Antonio Miranda, concorda com a colega da Unicamp, e acrescenta: “Finalmente estamos na era do ‘todos para todos’, em que qualquer pessoa publica, troca informação, critica, trabalha em forma cooperativa, universaliza o conhecimento.”
O debate é, realmente, amplo e inclui também a observação da diretora do sistema de bibliotecas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marieta de Moraes Ferreira, que sugere que as bibliotecas invistam em livros digitais, seja para dialogar com o público jovem e também pela questão de que, em média, o e-book ser mais em conta do que livro impresso em papel. O poeta e ensaísta Affonso Romano de Sant’Anna, que esteve à frente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) entre 1990 e 1996, diz que, se ainda estivesse no cargo, transformaria lan houses em modernas bibliotecas, “onde o jogo estivesse ao lado da leitura.”

E, apesar da inegável presença da tecnologia no cotidiano de todos, o coordenador de Sistemas da Biblioteca Central da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Michelângelo Mazzardo Marques Viana, comenta que as pessoas vão até as bibliotecas não apenas em busca de atividades culturais como exposições e shows, mas para encontrar um espaço onde seja possível, enfim, ler. A chefe da divisão de extensão da Biblioteca Pública do Paraná, Marta Sienna, lembra que, apesar de todos esses desafios, que dizem respeito à tecnologia, as bibliotecas precisam focar naquilo que é uma de suas missões: disseminar a informação e incentivar a leitura.