Editorial

O Paraná se emancipou politicamente em 1853, mas o primeiro sinal de vitalidade intelectual no Estado aconteceria apenas décadas depois, devido à atuação de Newton Sampaio. Ele nasceu no dia 10 de setembro de 1913, em Tomazina, e morreu no dia 12 de julho de 1938, na Lapa. Foram apenas 24 anos. Mas nesse brevíssimo período de vida ele conseguiu, sem exagero, chacoalhar, e mesmo, inventar — intelectualmente — a província.

Foi o primeiro escritor moderno do Paraná.

Mais que isso, foi o primeiro a combater o provincianismo e a evitar o elogio ao escritor apenas pelo fato de ele ser uma personalidade da aldeia.
Sampaio procurou e conquistou a independência intelectual.

No centenário de nascimento do escritor, o Cândido apresenta um dossiê sobre a vida e a obra de Newton Sampaio. Luiz Rebinski Júnior fez um levantamento do percurso do sujeito que nasceu no interior do Paraná, passou por Curitiba e migrou para o Rio de Janeiro, onde estudou medicina, escreveu e publicou contos e artigos em jornais. O irmão do autor, Pedro Sampaio, e Lilian Guinski, autora de uma dissertação de mestrado sobre a trajetória de Sampaio, foram entrevistados.

O doutor em Letras e professor da Universidade Federal do Paraná, Luís Bueno, produziu ensaio contextualizando Sampaio no período em que ele esteve inserido. Para o estudioso, Sampaio, devido à sua liberdade de pensamento, garante uma “posição de permanência na literatura brasileira, capaz de fecundar o que se fez de mais renovador em seu Estado de origem nas décadas seguintes”.

O jornalista e contista Marcio Renato dos Santos conta como conheceu a obra de Sampaio e de que maneira produziu uma dissertação de mestrado a respeito do legado intelectual do contista paranaense. A edição também publica dois contos do autor. “Quinze minutos”, de Irmandade (1938), o livro preferido de Dalton Trevisan, e “Caco de gente”, de Contos do sertão paranaense (1939), a obra favorita do crítico literário Wilson Martins (1921-2010).

Enfim, um especial sobre esse autor, na definição de Luís Bueno, “um menino de cem anos”. Boa leitura.