Editorial

A experimentação linguística sempre foi um traço marcante da literatura paranaense, em especial a feita em Curitiba. Assim como Wilson Bueno e Jamil Snege, Manoel Carlos Karam pautou sua obra pela busca de uma linguagem que fugisse dos padrões estéticos mais convencionais da literatura brasileira.

O gosto por uma narrativa anarquicamente calculada e o uso da anáfora como um recurso linguístico recorrente, fizeram de Karam um dos autores mais singulares da nossa literatura nos últimos 20 anos. Esses elementos da narrativa única de Karam estão presentes nos dois contos inéditos que o Cândido publica nesta edição em homenagem ao autor, morto em dezembro de 2007. “Schoenberg, Berg e Webern” e “Ilha de Nossa Senhora Fulana de Tal e outros nomes” fazem parte de Um milhão de velas apagadas, livro ainda inédito do autor.

“Karam sempre insistiu no enredo labiríntico, nos protagonistas espiralados, na topografia onírica. Para ele, a literatura era farra e fanfarra, era a desforra do instinto contra a razão burocrática”, escreve Nelson de Oliveira, em texto sobre a obra do autor de Cebola. Já o escritor Luiz Andrioli, que trabalhou com Karam no jornalismo curitibano, relembra episódios de sua convivência com o autor.

Na seção de inéditos, além dos contos de Karam, a edição traz poemas de Josely Vianna Baptista, que em janeiro lança, pela editora Cosac Naify, seu livro Roça barroca, com traduções para a língua portuguesa dos cantos mitológicos dos Mbyá-Guarani do Guairá. Contos do curitibano Márcio Renato dos Santos e da carioca Livia Garcia-Roza, além de crônica de José Roiberto Torero sobre o mundo onírico das bibliotecas inventadas, completam a edição.

Boa Leitura a todos