Cândido indica

Amuleto
Roberto Bolaño, Companhia das Letras, 2008 (Tradução: Eduardo Brandão)
É a banguela Auxilio Lacouture, “mãe de todos os poetas do México”, quem narra este que é um romance algo memorialístico, algo insano. Atormentada, Auxilio conta o episódio em que o exército invadiu a Universidade Nacional Autônoma do México e ela se safou ao se esconder por vários dias num banheiro. Apesar de sua convivência diária com escritores, da vida boêmia e inflamadas discussões literárias, as palavras da narradora apontam para um desastre iminente. Em meio à tormenta, somente o canto dos jovens poetas latino-americanos é capaz de oferecer qualquer vislumbre de alento. Em Amuleto, o chileno Roberto Bolaño homenageia todos os que resistem através dos versos, da escrita, num romance curto mas intenso, repleto de lirismo e esperança.

Uivo, Kaddish e outros poemas
Allen Ginsberg, L&PM, 1984 (Tradução: Cláudio Willer)
Proibido de circular após ser publicado, em 1956, Uivo representa — juntamente com On the road, de Jack Kerouac — o ponta pé inicial da geração beat. Nesta edição, o logo poema em prosa de Ginsberg é acompanhado de outros dois livros, Kaddish e Sanduíches de realidade. A narrativa, embalada pelas influências místicas do autor, traça a sinuosa trajetória da geração de autores que marcou a literatura americana e mundial no século XX. A edição brasileira ainda vem acompanhada de um elucidativo ensaio de Cláudio Willer, que deixa o leitor brasileiro a par de todas as conexões entre vida e obra de Ginsberg presentes nos célebres versos de Uivo.

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Poesia Reunida
João Manuel Simões, Editora do Chain, 2018 
Nascido em Portugal e radicado em Curitiba desde 1954, João Manuel Simões é autor de mais de 40 livros — nos mais diferentes gêneros. Em 2015, sua vasta produção poética começou a ser reeditada. O terceiro volume de uma série da quatro tomos, com 5 livros publicados originalmente entre os anos 1980 e 1990, acaba de sair. A antologia traz poemas em que Simões dialoga com a literatura e outras expressões artísticas — traço que se tornou uma das marcas de sua poesia —, a exemplo do livro Lira de Dom Quixote (1992), todo ele dedicado ao clássico de Cervantes.

O Grande Jogo de Billy Phelan 
William Kennedy, Cosac&Naify, 2009 (Tradução: Sergio Flaksman)
Discípulo de outro William, o Faulkner, o americano William Kennedy segue com maestria a trilha literária deixada pelo autor de O som e a fúria e Palmeiras selvagens. Neste O grande jogo de Billy Phelan, lançado em 1978, o autor dá contornos oníricos, míticos, a uma vida que transborda realidade. Billy Phelan é um apostador incorrigível que cai em desgraça após uma decisão que contraria um figurão do submundo de Albany, território em que se passam sete dos romances de Kennedy. Costurando as histórias dos personagens, o escritor constrói um romance não-linear que exige atenção total do leitor, mas que é muito recompensador ao final.