Biblioteca Afetiva

Eliane Carvalho
O encontro com Clarice Lispector foi definitivo na minha vida. Na leitura de seus livros e sobretudo do livro Água viva, encontrei o eco de minhas sensações mais recônditas e as dancei. Duas paixões se encontravam: a dança e a literatura. Acredito que a poesia das palavras pode trazer ao corpo que dança novos espaços de experimentação, possibilitando um constante estado de reinvenção. Afinando nossa escuta, ela nos diz: “Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com o seu corpo inteiro.”

Eliane Carvalho é diretora e professora do Studio Gesto (www. studiogesto.com.br), centro de referência da Dança Flamenca no Brasil. Combina a experiência como professora e coreógrafa, construída através de mais de 20 anos de estudos no Brasil e Espanha, com suas pesquisas acadêmicas acerca da relação corpo-palavra para desenvolver seu trabalho de Preparação Corporal em Artes Cênicas. Vive no Rio de Janeiro (RJ).

Jovino Machado


Na minha infância, não tive uma biblioteca em casa, mas meu pai lia os escritores russos, franceses e brasileiros. Na mesa de jantar, ele sempre dizia: “O mundo se divide em dois tipos de gente, os que leram Dostoiévski e os que não leram Dostoiévski”. No natal de 1999 ele me deu de presente uma edição do livro Os irmãos Karamázov. Fiquei vinte e cinco dias sem ler jornal, ver televisão e beber cerveja, para mergulhar nas aventuras do bondoso Aliócha, do intelectual Ivan e do Devasso Dimítri. O melhor romance que li em minha vida é o canto de cisne do russo. É o seu apogeu e o seu fim. É uma obra densa, desigual, desequilibrada, mas cheia de vida, de paixões, de pensamento, de visão cruel e piedosa dos homens. Na minha bêbada e imodesta opinião, posso dizer que fiquei assombrado com tanta beleza.

Jovino Machado é poeta e restaurateur. Publicou 13 livros de poemas. É autor, entre outros, de Fratura exposta ( 2005 ) e Cantigas de amor & maldizer ( 2013 ). Vive em Belo Horizonte (MG).