Biblioteca Afetiva
Edson Bueno é autor, diretor e ator de teatro. Dirigiu 77 peças de teatro em seus 28 anos de carreira. Em agosto estreiam, no Espaço Cênico, em Curitiba, três espetáculos dirigidos por ele, baseados em grandes escritores: Caio Fernando Abreu (O homem que acreditava), Guimarães Rosa (Onde o diabo perdeu as botas) e Franz Kafka (Kafka — a vigília). Vive em Curitiba (PR).
Ganhei um Rembrandt — portraits. Desses livros de porta de museu. Nele, a reprodução das dezenas de autorretratos feitos pelo pintor. A importância para mim: não pela genialidade do personagem, mas pela confissão da falta do que fazer. Ele com chapeuzinho verde. Com lenço de um lado. Com lenço do outro lado. Chapéu marrom, bigodes. Sem bigodes mas com suíças. Sem suíças. De frente bem perto. Menos perto. De perfil. Também eu fico muito tempo sem nada para fazer. Se ele pode, então eu também posso. (Mas não, não faço autorretratos compulsivamente).
Elvira Vigna é escritora. Autora, entre outros, de Deixei ele lá e vim (2006), Nada a dizer (2010) e O que deu para fazer em matéria de história de amor (2012). Vive em São Paulo (SP).
Fiquei muito impressionado com Extinção, do Thomas Bernhard, este acerto de contas com a família, com a nação, com a noção de território. É o último livro dele, escrito em 1986, e o protagonista do livro, Josef Murau, tenta apagar sua vida da única maneira que lhe parece possível: escrevendo sobre ela. E com a morte dos pais, tem de enfrentar tudo aquilo que abomina, as convenções familiares, sociais e políticas. O livro é um belo exemplo da obra do Bernhard, uma obra sem concessões, comprometida apenas com o próprio ofício da escrita.
Carlos Henrique Schroeder é escritor. Autor, entre outros, de A rosa verde (2005), Ensaio do vazio (2006) e As certezas e as palavras (2010) — Prêmio Clarice Lispector de Literatura 2010, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional. Vive em Jaraguá do Sul (SC).
O livro mais desafiador que já reli, foi Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa. A primeira vez, confesso que não entendi quase nada, mas insisti na leitura. Entrei pelos atalhos possíveis, tomando o rumo que minha pequena experiência com o mundo dos livros me permitia naquele momento. Queria compreender como algo que eu não dominava podia me causar tal alumbramento. Ávida para decifrar suas “misteriosidades” novamente me embrenhei nas veredas, desta segunda vez como leitura obrigatória em uma disciplina do curso de Letras. Anos depois li por deleite, com tempo, então, velhos e novos mistérios se revelaram como se fosse a primeira vez diante daquela história, daquele sertão “sem fim”, como disse Riobaldo, que faz segredo das coisas. Cada um o desvenda quando e como pode.
Tatjane Garcia é mestre em literatura pela UFPR e coordenadora de projetos culturais da Biblioteca Pública do Paraná. Vive em Curitiba (PR).