Entrevista | Paulo Barnabé 05/03/2020 - 15:25

Dalton com atonalismo

Fábio Galão

Paulo Barnabé encabeçou a Patife Band nos anos 1980. Ao lado de seu irmão Arrigo e de Itamar Assumpção, foi personagem fundamental da chamada Vanguarda Paulista — movimento gestado no Norte do Paraná, que apresentou novas possibilidades para a música brasileira daquela década. 

Em entrevista ao Cândido, Paulo falou, entre outros assuntos, do processo criativo do álbum Corredor Polonês (1987) e de como lidou com a ideia de seu disco ter se transformado em um livro, assinado pela jornalista Melissa Medroni e pelo fotógrafo Marcelo Dallegrave.

 

O que achou de Corredor Polonês ter virado livro?

O Marcelo (Dallegrave) me procurou e não fiquei muito “afins” de cara. Mas a gente foi conversando, ele foi colocando a ideia dele, fazendo as perguntas, e foi legal porque pude expor meu processo de composição, como foi a preparação dos músicos...

Por que acha que o disco é cultuado até hoje? 

É uma linguagem que não ficou datada, é um som atemporal, poderia ter sido gravado hoje em dia e iria despertar a mesma curiosidade. Gente mais nova vem me procurar até hoje por causa do Corredor Polonês.

Como desenvolveu a sonoridade e a estética do álbum? 

Eu fui buscar essa linguagem pop, desenvolvida desde a época em que trabalhei com o Arrigo, desde Londrina, com atonalismo, ritmos quebrados, algo fora do padrão. E, quando terminei o trabalho com o Arrigo, já tinha uma linguagem que queria explorar. Tem músicas como “Pesadelo”, que eu gravei no miniLP de 1985 e também no Corredor, que tinha sido composta a duas mãos ao piano, eu e o Arrigo, em 1980. Era para uma ópera que a gente estava escrevendo para depois do Tubarões Voadores (disco de Arrigo) e o livreto seria meu e do Robinson Borba. Não deu certo e eu coloquei dentro da minha estética. “Tô Tenso” tinha sido escrita junto com o Arrigo e o Itamar Assumpção, mas em um formato diferente. E eu me aproximei do pessoal do início do punk de São Paulo, como o Clemente (dos Inocentes), como os Ratos de Porão, o que me ajudou também.

Você já disse que sua maior preocupação quando compõe é o instrumental. Como escreve as letras? 

Quando tenho uma frase (musical), ela me inspira algum tema e eu transformo em um personagem. Qualquer coisa que eu vejo pode me influenciar — filmes, literatura. As minhas letras não são em forma de poesia, são descritivas, diretas, sem rima, na linha do (Allen) Ginsberg, mas não quero dizer que ele foi influência minha. Um cara que me influenciou muito foi o Dalton Trevisan: letras como as de “Neide Manicure Pedicure” e “Acapulco Drive-In” (músicas de discos de Arrigo com letras de Paulo) foram inspiradas pelos contos dele.


FÁBIO GALÃO é jornalista. Trabalhou na Folha de Londrina e colaborou com publicações da Editora Abril e veículos como Gazeta do Povo e Rede Massa.

 

A Patife Band foi criada por Paulo Barnabé em 1984. Foto: Rodrigo Fonseca/Divulgação