ESPECIAL | Reportagem em quadrinhos: a potência da linguagem visual 19/09/2024 - 16:38
por Marianna Camargo
Expansão do gênero fortalece narrativas e aproxima o leitor das histórias.
A história de três mulheres na Cracolândia, assinada pela jornalista e ilustradora Carol Ito, foi a reportagem vencedora do Prêmio Vladimir Herzog em 2022, na categoria Arte. “Três Mulheres da Craco”, publicada na revista Piauí, conta por meio de quadrinhos a vida e trabalho dessas mulheres na Cracolândia, local no Centro da capital paulista, que existe há cerca de 30 anos, onde ficam muitos dependentes químicos, principalmente do crack.
As três mulheres são: a ativista Carmen Lopes, fundadora do coletivo Tem Sentimento, que oferece oficinas de capacitação em corte, costura e economias criativas, além de assistência para mulheres cis e trans em situação de vulnerabilidade social; a artista Laurah Cruz, que trabalha no coletivo, e a auxiliar de cozinha Daiane Ferreira, dependente química.
Com cada vez mais impacto, o jornalismo em quadrinhos (JQ) vem ganhando visibilidade no Brasil, com uma gama de autores(as), publicações e editoras especializadas neste segmento. Carol Ito comenta que reportagens feitas em formato de história em quadrinhos (HQ) aproximam as pessoas dos assuntos que por vezes poderiam passar despercebidos. “Gosto bastante de pensar que o jornalismo em quadrinhos aproxima pessoas de temas que talvez não se interessassem. Quando trabalho com a Cracolândia, questões de gênero, direito das mulheres e cárcere, recebo muito esse feedback. O desenho tem esse lugar afetivo, da pessoa bater o olho e já conseguir ser captada de alguma forma”, diz a jornalista, que publicou também as HQs Inteiro pesa mais do que metade (ed. nVersos, 2023), Siriricas Tristes e outras (in)felicidades (ed. Veneta, 2023) e é coautora de Boy Dodói: histórias reais e ilustradas sobre masculinidade tóxica (ed. Bebel books, 2023).
A questão afetiva também é apontada pelo ilustrador e animador Robson Vilalba, que teve reportagens em quadrinhos publicadas pela Folha de S. Paulo, Le Monde Diplomatique Brasil e Gazeta do Povo. “Quando a gente conta uma história, qualquer tipo de história nesse formato, é como se acessássemos uma parte da pessoa, diferente de outras mídias. Também tem essa coisa de você ver a figura, mas como é um desenho, ou seja, não é uma imagem, a representação da imagem permite que o leitor, a leitora, preencha um pouco daquilo que estão vendo com as suas memórias, com as suas lembranças, com sua relação de afeto com um determinado tema. Esse é um recurso dos quadrinhos muito importante, muito forte, muito poderoso”, explica o autor, que em 2014 recebeu o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, pela série de reportagens ilustradas sobre a Ditadura Militar brasileira, que resultaram no livro Notas de Um Tempo Silenciado (Ed. Besouro Box, 2015). Publicou também Um Grande Acordo Nacional (Ed. Elefante, 2022), no qual aborda a história do golpe político contra a presidenta Dilma Rousseff, e Utopia, (Ed. Veneta, 2024) sobre a Revolução dos Cravos, em Portugal, entre outros.
Nessa mesma linha de trabalho, Alexandre De Maio ganhou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, em 2013, pela reportagem “Meninas em jogo”, sobre exploração sexual infantil, para a Agência Pública, e em 2021, ganhou também o Prêmio Ciência e Saúde do The International Center for Journalists (ICFJ), com uma matéria em quadrinhos sobre a Covid nas periferias paulistas, concorrendo com mais de 670 inscrições de todo o mundo.
“O desenho, a imagem desenhada, explica muita coisa diretamente no inconsciente, pela imagem, então é diferente de um texto que a pessoa precisa compreender. O desenho já vai, manda uma mensagem muito direta. Contar histórias e poder destacar coisas que às vezes não foram filmadas ou não tem imagem real daquilo, é possível reproduzir aquele momento por meio da linguagem dos quadrinhos, é uma técnica muito interessante”, comenta De Maio, que possui diversos títulos em HQ: Os inimigos não mandam flores (Ed. Pixel, 2006); Desterro (Ed. Anadarco, 2010). Depois, em 2016, lançou três livros na França: Génération Favela (Ed. Ateliers Henry Dougier), Jesuis Rio e a versão francesa do Desterro.
O autor Guilherme Caldas, acadêmico, pesquisador e profissional da área, fez seu primeiro fanzine em 1992, junto com o roteirista Olavo Rocha, depois HQs como Candyland (Ed. Candyland Comics, 2018), Cidade das Águas (Ed. Pólen Livros, 2015) e 1968 Ditadura Abaixo (Ed. Arte e Letra, 2008), entre outras, e comenta sobre o teor dos conteúdos. “É sempre um desafio, porque é preciso, de algum jeito, dar conta visualmente da pauta abordada – o que implica uma pesquisa que pode ser bastante exaustiva. Tem, ainda, a questão importante de compreender que HQ não é só picotar um texto e colocar figurinhas acompanhando cada parte. A interação entre texto escrito e texto visual é fundamental para que a coisa funcione como quadrinhos. É um diálogo, ou um tensionamento, em que não compete ao texto escrito apenas repetir o texto visual ou vice-versa, mas complementar, estender e, dependendo do caso, até problematizar o que está escrito ou desenhado”, reforça.
Robson Vilalba comenta que quando se conta uma história em formato de quadrinhos, uma parte da pessoa é acessada, diferente de outras mídias
Alexandre De Maio venceu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo em 2013, pela reportagem Meninas em jogo, sobre exploração sexual infantil
Para o jornalista, professor universitário e pesquisador de narrativas de não ficção, Mateus Yuri Passos, que assina com Ana Paula Silva Oliveira o artigo “Joe Sacco: Jornalismo Literário em quadrinhos”, os maiores diferenciais do jornalismo em quadrinhos são justamente o uso da linguagem expressiva dos quadrinhos como uma forma de trazer elementos verificados durante um processo de apuração jornalística, combinando técnicas de investigação, de entrevista, de testemunho e observação que constituem a base do trabalho jornalístico com uma linguagem expressiva, uma linguagem artística que tem as suas particularidades para a configuração estética de uma obra.
Histórias necessárias
Foi com a cultura hip-hop que De Maio formou muito da sua personalidade e do seu caráter. “Aprendi muito com o hip-hop. Sobre ajudar o próximo, sobre direitos humanos, sobre como a arte pode ter um propósito além de ser um produto”. Como diretor de Audiovisual e Projetos, fez trabalhos para Emicida, Mano Brown e outros artistas ligados à cena musical. “O quadrinho, o hip-hop e o rap são linguagens muito naturais para mim. Eu desenhava desde criança e vi no hip-hop como usar a arte dos quadrinhos, como usar a arte para um propósito, para melhorar sua comunidade, então é nessa linha”, diz De Maio, que desenvolve seu trabalho dentro desse contexto, com temas como o racismo, a violência policial, tráfico humano, exploração sexual, todos relacionados aos direitos humanos.
Guilherme Caldas, autor e pesquisador, diz que HQ não é só picotar um texto e colocar figurinhas acompanhando cada parte. A interação entre texto escrito e texto visual é fundamental
Carol Ito foi a primeira mulher a desenhar charges ao vivo no programa Roda Vida, da TV Cultura, em 2023, o que explicita um meio dominado majoritariamente por homens. Ela aborda a questão trabalhando justamente a diversidade, seja no debate público, seja nas produções artísticas. “A gente caminha para um mundo mais justo dessa forma, porque enquanto o mundo e as produções foram dominadas sempre por homens cis e da elite, como vemos muito bem na política, as coisas vão continuar como estão, os privilégios vão continuar os mesmos. Sou uma defensora dessa diversidade, não só de mulheres, mas de pessoas racializadas, pessoas de grupos minorizados, de diferentes identidades de gênero e diferentes orientações sexuais, diferentes classes, precisamos estar em todos os lugares. Inclusive nas artes e na política tradicional”, ressalta a jornalista.
A narrativa do golpe político contra a presidenta Dilma Rousseff, contada em Um Grande Acordo Nacional, e Utopia, sobre a história de Portugal, de Vilalba, abordam assuntos políticos, históricos e sociais. “Converso muito sobre esses temas com pessoas com quem eu conheço, com quem eu criei laços de amizade, com quem eu tenho interesse pela opinião, o que acaba sendo muito forte naquilo que eu faço, no que eu escolho fazer. Só que junto disso, é importante contar uma boa história, sabe? E uma história que não seja plana, chata no sentido de achatado, que você tenha só o fim. A vida é muito mais complexa do que isso”, analisa o autor.
1968 Ditadura Abaixo, de autoria de Guilherme Caldas com a jornalista Teresa Urban (1946 - 2013), uma referência no Jornalismo Ambiental e ícone da resistência contra a Ditadura no Paraná, foi pensado com a ideia de produzir um livro voltado aos jovens para contar um período recente e importante da história brasileira a partir do ponto de vista de uma pessoa que viveu os acontecimentos¹. Caldas considera este o trabalho mais importante e relevante que fez até hoje, além de ter sido um processo árduo. “Fizemos o livro todo em seis meses e continua sendo a HQ mais longa que eu já desenhei, com 150 páginas. Esse livro, a meu ver, tem um só problema: que é o de ser muito menos lido e conhecido do que deveria”.
O quadrinho como método
O maltês Joe Sacco, um dos principais nomes do jornalismo em quadrinhos do mundo, é autor de vários títulos ambientados em zonas de conflito, como Palestina: uma nação ocupada (ed. Conrad, 2000), originalmente publicada em nove volumes, entre 1993 e 1995, a qual recebeu o American Book Award, em 1996, Palestina: na Faixa de Gaza, escrita entre 1991/92 (ed. Conrad, 2003) e Notas sobre Gaza, (Quadrinhos na Cia, 2010), que lhe rendeu o Ridenhour Book Prize, prêmio americano que contempla o reconhecimento por atos que expõem a verdade, protegendo o interesse público e promovendo justiça social. Sacco escreveu ainda sobre assuntos como a vida dos refugiados africanos em Malta e as vítimas de criminosos de guerra.
As obras sobre a Palestina são consideradas fundamentais como reportagens históricas, o autor foi a campo investigar os fatos ocorridos e reconstituiu a real situação do povo palestino sob os ataques feitos pelo Estado de Israel — pauta ainda extremamente atual, como relata o autor na introdução do livro Palestina: na Faixa de Gaza. “Este livro descreve a Faixa de Gaza que vi num passado não tão distante. Ao mesmo tempo que espero com sentimentos alternados de esperança e receio as futuras mudanças na vida dos habitantes de Gaza e de outros palestinos, é com muita tristeza que percebo que a situação continua dolorosamente igual”, escreveu, em setembro de 1995, há quase 20 anos.
Recentemente, em novembro de 2023, Sacco disse em uma entrevista ao canal do Youtube da editora Veneta, com a socióloga Sabrina Fernandes, que o poder do desenho está, justamente, em evidenciar as diferentes camadas da realidade. “Há muito material no fundo, coisas que se pode mostrar. Quer dizer, você pode ter pessoas em primeiro plano, por exemplo, falando sobre a situação política, seja ela qual for, mas, ao fundo, você os vê brincando com os filhos, você vê o chá chegando. Tudo isso meio que cria uma ideia mais holística de como é a vida das pessoas”, comenta sobre a atmosfera da Palestina. Um dos seus livros mais recentes, Pagar a Terra, publicado em 2020 pela Companhia das Letras, foi eleito “O livro do ano” pelo Guardian e pelo New York Times, e relata uma investigação sobre os povos originários da América, a exploração de recursos naturais e a nossa dívida com a terra.
Art Spiegelman, com a HQ Maus, foi o primeiro autor a ganhar o Prêmio Pulitzer de jornalismo com uma história quadrinhos, em 1992
Art Spiegelman também é um outro nome referencial, com Maus (ed. Quadrinhos na Cia, 2005) – que faz o registro da história de seu pai, Vladek, um judeu polonês que sobreviveu aos campos de concentração nazistas. Esse trabalho, publicado inicialmente em capítulos na revista americana Raw, venceu um dos prêmios mais prestigiados do jornalismo, o Pulitzer.
Caldas destaca que Spiegelman foi um marco importante na validação dos quadrinhos como um meio capaz de dar conta de temas sérios, densos e relevantes. “Um processo que vem se arrastando desde, pelo menos, o final da década de 50 e que segue em andamento. O fato de ser uma história contada com o recurso de desenhos não faz com que o JQ seja uma modalidade menos assertiva e objetiva”, afirma.
O jornalismo em quadrinhos permite que o leitor tenha mais relação com aquilo que está vendo, comenta Vilalba, que costuma brincar que esse formato é uma espécie de anti-fake news no sentido que, fake news, é sempre uma notícia que se esgota em si, ou seja, é uma tentativa falsa de dizer que a realidade é uma determinada realidade. No caso dos quadrinhos, ele já parte do pressuposto de que isso é um desenho, é aberto ao diálogo, a interpretações e discussões do que está colocado em jogo. "Acho que isso é um recurso muito interessante e acaba tendo relação com as pessoas que consomem esse tipo de mídia”, analisa.
Mídia que pode ser compreendida como um método no jornalismo, tanto em termos de linguagem quanto na técnica de apuração, de acordo com o professor Passos. “Quando falamos em jornalismo em quadrinhos, pensamos na verdade mais na adoção de um método, de uma prática, do que de um gênero específico, já que temos diversos gêneros possíveis no jornalismo”.
Biografia, documentário, entrevista – o hibridismo da linguagem
No livro A Câmara Clara (1980), Roland Barthes observa o quanto existe de ficcional no uso jornalístico e documental da fotografia, um meio tido pelo senso comum como capaz de expressar a verdade de modo neutro, além de objetivo. Guilherme Caldas reforça que não é preciso nem mesmo recorrer aos usos de manipulação de imagem, como se fazia no período de Stalin, com o apagamento de pessoas caídas em desgraça nas fotos, basta pensar na direção em que a câmera fotográfica é apontada ou no que é excluído ou mantido na hora de sua publicação. "O mesmo fato pode ser interpretado de mais de um jeito, bastando para isso apenas enfatizar o aspecto que seja mais relevante para o jornalista ou o veículo de imprensa", complementa.
Caldas percebe a prática do jornalismo em quadrinhos como algo muito próximo do romance de não-ficção que Truman Capote reivindicava como gênero para sua extensa reportagem A Sangue Frio (1966). “Em relação a outras modalidades, no JQ fica mais evidente e mais tensionada a relação entre verdade e invenção. Invenção porque, afinal, tem a figura do artista elaborando os desenhos, os painéis, que vão contar a história. E verdade porque é disso que se trata quando pensamos em jornalismo. Mesmo se levarmos em conta a questão da imparcialidade buscada, mas impossível. Uma reportagem lida com o registro e a interpretação dos acontecimentos – e no JQ não é diferente”, afirma.
Mateus Yuri Passos afirma que definir o jornalismo em quadrinhos é desafiador, pois existe um conjunto razoavelmente amplo de quadrinhos de não ficção. “Podemos pensar nesse universo maior, como histórias em quadrinhos centradas em acontecimentos factuais. Dentro desse grupo existem, por exemplo, quadrinhos autobiográficos, e aí até temos variações desse eixo: autobiografias, quadrinhos de memórias, e autoficção – que tem uma inspiração autobiográfica, mas incorpora elementos ficcionais também. Esses trabalhos claramente não são jornalísticos, pois não são desenvolvidos a partir de técnicas jornalísticas de apuração, como pesquisa documental, entrevista, investigação, etc”, opina.
Entre os biográficos, há HQs sobre Van Gogh, Angela Davis, Primo Levi, o livro Ikkyu, que narra a biografia de um monge budista japonês do século XV, entre outros. Há ainda os que se aproximam da reportagem, da entrevista e do documentário. “Alguns quadrinhos hibridizam um pouco das duas abordagens, como o mangá-documentário Virgem Depois dos Trinta, de Atsuhiko Nakamura e Bargain Sakuraichi (Ed. Pipoca e Nanquim, 2019) sobre japoneses acima dos 30 anos de idade que nunca tiveram relações sexuais, feito em pequenos perfis em quadrinhos de personagens diferentes, além de O Mundo Sem Fim, o livro mais vendido na França em 2022. “É um quadrinho sobre mudanças climáticas. E não foi apenas o quadrinho mais vendido, mas o livro mais vendido. Temos, assim, híbridos entre o documentário, a biografia e o perfil”, ressalta Passos.
Origens do jornalismo literário em HQ
Os autores americanos Truman Capote e Gay Talese, que escreveram, respectivamente, A Sangue Frio (1966) e Fama & Anonimato (1970) são igualmente citados quando se fala sobre jornalismo literário em quadrinhos. “No Brasil é comum mencionar que o jornalismo literário surgiu a partir do novo jornalismo norte-americano dos anos 60, que foi um período, de fato, de produção de maior visibilidade cultural e editorial do jornalismo literário", contextualiza Passos.
No Brasil, o novo jornalismo coincide historicamente também com o surgimento da revista Realidade (1966-68) e de uma linha mais voltada ao jornalismo literário no Jornal da Tarde (1966), do Grupo Estado. Mas não é um ponto de origem do jornalismo literário nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, conforme explica o professor. “Os Estados Unidos possuem obras de jornalismo literário desde a época da Guerra Civil Norte-Americana, pelo menos”. No Brasil, se inicia com algumas obras de cobertura de guerra, como Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e antes dele A Retirada da Laguna (1871), de Visconde de Taunay, livros que podem ser considerados jornalismo literário”, afirma Passos.
Origens do jornalismo literário em HQ
Os autores americanos Truman Capote e Gay Talese, que escreveram, respectivamente, A Sangue Frio (1966) e Fama & Anonimato (1970) são igualmente citados quando se fala sobre jornalismo literário em quadrinhos. “No Brasil é comum mencionar que o jornalismo literário surgiu a partir do novo jornalismo norte‐americano dos anos 60, que foi um período, de fato, de produção de maior visibilidade cultural e editorial do jornalismo literário", contextualiza Passos.
No Brasil, o novo jornalismo coincide historicamente também com o surgimento da revista Realidade (1966-68) e de uma linha mais voltada ao jornalismo literário no Jornal da Tarde (1966), do Grupo Estado. Mas não é um ponto de origem do jornalismo literário nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, conforme explica o professor. “Os Estados Unidos possuem obras de jornalismo literário desde a época da Guerra Civil Norte-Americana, pelo menos”. No Brasil, se inicia com algumas obras de cobertura de guerra, como Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e antes dele A Retirada da Laguna (1871), de Visconde de Taunay, livros que podem ser considerados jornalismo literário”, afirma Passos.
Ele menciona outras manifestações anteriores ao redor do mundo, como as crônicas urbanas de Charles Dickens, no início do século XIX; as obras de não-ficção Daniel Defoe; obras em língua espanhola, em língua alemã, em diversas línguas indianas, em chinês. “Novamente, a questão é menos um ponto de origem e mais um processo, devido a uma certa proximidade da atividade jornalística com a atividade literária”.
A arte no debate público
Passos diz que é necessário entender os quadrinhos tanto como mídia quanto como uma linguagem expressiva, que possuem uma grande relevância artística e um grande potencial artístico, contemplando temas com pluralidade e diversidade.
No prefácio de Palestina: na Faixa de Gaza, Edward W. Said escreve: “A arte de Sacco tem o poder de prender nossa atenção, de impedir que nos distraiamos para seguir uma frase de efeito ou uma narrativa lamentável e previsível de triunfo e realização. E esse talvez seja o maior de seus méritos”.
Caldas conclui: “Gosto de lembrar das palavras do Eduardo Motta, meu colega em um grupo de estudo e produção de arte. Ele diz que sua atuação como artista é um jeito de participar do debate. Eu acho essa definição perfeita, não tem pretexto melhor para fazer arte do que esse”, arremata