ESPECIAL | Quanto custa? 30/01/2023 - 18:27
Pequenas tiragens podem ser viabilizadas por meio de estratégias como a organização em coletivos e a busca de recursos em editais
Isabella Serena e Juliana Sehn
Questionados sobre o custo aproximado da produção de um livro independente, os autores e editores procurados pela reportagem deram a mesma resposta: “Varia”. Quando o escritor Matheus Peleteiro é contratado para editar uma obra de outro autor, prevê um valor médio de R$ 3 mil para imprimir 100 exemplares de um livro de 120 páginas. Isso contempla os custos com designer, gráfica e diagramação. Se ele edita um livro próprio, costuma gastar um pouco mais por conta da contratação de um preparador profissional. A quantia pode subir ainda mais caso Peleteiro decida investir nos serviços de uma assessoria de imprensa.
“Os custos variam muito, podendo ir de algo extremamente barato, que envolva processos mais caseiros ou desenvolvidos de formas mais simples, ou custar uma fortuna, como quando, por exemplo, convidamos artistas, especialistas e profissionais renomados de cada área”, comenta Daniel Lameira. Ele conta que, no processo comum de uma editora, um livro de 300 páginas que necessite de tradução e uma edição padrão pode custar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil reais — sem contar o valor da gráfica, um dos processos mais onerosos. Cada exemplar impresso, numa estimativa recente de Mateus Peleteiro, pode custar entre R$ 9 e R$ 14 — com um material de boa qualidade. “O preço do papel vem subindo muito. No início da pandemia, conseguia imprimir cada livro até por R$ 7”, conta.
Na editora Telaranha, os custos são reduzidos em termos de equipe, uma vez que todo o trabalho é realizado apenas por Guilherme Pereira e Bárbara Tanaka. O único gasto é com impressão, cujo preço varia de acordo com o tipo de papel escolhido, o tamanho do livro, o acabamento da capa e a tiragem. Quando uma quantidade maior de exemplares é produzida, o valor por unidade cai. Esse custo também pode mudar por conta da oscilação nos orçamentos apresentados pelas gráficas. Guilherme notou que, entre os meses de abril e novembro do ano passado, houve um aumento considerável do preço desse serviço, em torno de 30%.
Os custos dos lançamentos da Membrana também são baixos, uma vez que o coletivo não busca ter lucro. Não existem cachês para os evolvidos, que são motivados pela gratificação pessoal com os projetos. O fato de o grupo não trabalhar com o formato tradicional de livro também diminui os gastos. A impressão do fanzine Corja! (2019), por exemplo, custou R$ 20 por exemplar — cada edição é vendida por R$ 25.
Além disso, a Membrana consegue manter algum dinheiro em caixa por meio de sua circulação em feiras e outros eventos. No ano passado, o grupo vendeu uma quantidade expressiva de produtos durante a Feira Estopim e o Encontro de Editoras da Biblioteca Pública do Paraná — recurso que pode ser aplicado em futuras publicações.
Já para as editoras com mais funcionários na equipe, como a Lote 42 (que conta, por exemplo, com uma designer na folha de pagamento), o cálculo passa a ser um pouco diferente, com um custo diluído na estrutura da empresa. João Varella explica que a contratação de freelancers acaba saindo caro, e vale mais a pena pagar um salário fixo para funcionários que trabalhem em diferentes projetos da editora.
De olho nos editais
Outra opção é buscar por editais de lei de incentivo à cultura. João Varella conta que a Lote 42 recebeu, em dezembro do ano passado, recursos do Programa de Ação Cultural de São Paulo (Proac) para a melhoria de espaço. Isso vai possibilitar a melhoria da qualidade das aulas e de outros projetos, como clubes de leitura.
A Membrana também tem tentado se inscrever em editais de lei de incentivo, o que demanda bastante organização dos 20 membros do coletivo para lidar com os processos burocráticos. Mas o desejo de participar desses programas vai além da necessidade de recursos. “É também uma postura política. Porque o dinheiro público está aí para ser utilizado pela classe artística”, afirma Anna Carolina Azevedo.
O escritor Matheus Peleteiro nunca recorreu às leis de incentivo ou participou de concursos literários para publicar seus livros. Ele diz que a Bahia tem investido diretamente em literatura, o que deixa os autores locais para trás na cena nacional da literatura. Por lá, ainda existe a necessidade de que grandes empresas patrocinem projetos em troca do abatimento em impostos. “Tenho percebido que os raros editais estão mais preocupados com o discurso do que com as obras. Isso desestimula muito”, acrescenta.
Peleteiro tem esperanças de que a recriação do Ministério da Cultura transforme o cenário atual — expectativa compartilhada por João Varella. “Existe um otimismo quando se tem um governo que enxerga a cultura como um ativo”, comenta. Ele acredita que a Lote 42 foi beneficiada por ter surgido em um momento considerado positivo para as artes no Brasil. “Em 2012 havia uma efervescência cultural diferente no país. Na época eu não sabia, não enxergava isso”, reconhece.