ESPECIAL | O controverso Shakespeare 29/04/2022 - 12:35

A falta de documentos sobre a vida pessoal do dramaturgo dá margem para a criação das mais mirabolantes teorias

Luiz Felipe Cunha

 

A produção de William Shakespeare está relativamente bem documentada. Conhecemos as datas das encenações, os locais em que ocorreram e quais figuras importantes da época estavam na plateia. Mas o mesmo não se pode dizer da vida pessoal do autor. A falta de fontes e documentos (como notícias e diários) transforma sua trajetória em um campo fértil para a imaginação. A seguir, conheça algumas das teorias mais famosas, curiosas e cômicas sobre o Bardo.

 

Vários Shakespeares

Esta teoria afirma que não existiu apenas um Shakespeare, e sim vários — pelo menos três. Um grupo seleto, do qual fazem parte nomes como o filósofo Francis Bacon e os poetas Edmund Spenser e Walter Raleigh. Essa suposição surgiu no século XIX, quando as peças do Bardo ficaram famosas nos Estados Unidos. Sua criadora, a escritora norte-americana Delia Bacon, esteve na Inglaterra pesquisando a vida do dramaturgo e ficou famosa por questionar a autoria de suas peças. Para ela, os textos são, para além da literatura, obras filosóficas escritas por um grupo de políticos, intelectuais e nobres insatisfeitos com a monarquia (e que usavam o pseudônimo para lançar ideias inovadoras).

 

Os anos perdidos

O período entre 1582 e 1592 (dos 18 aos 28 anos do jovem William) é conhecido como “anos perdidos” para os especialistas em Shakespeare, pois não se sabe exatamente como ele se interessou por teatro e iniciou a carreira. Segundo a história mais contada, ele teria se mudado para Londres para fugir de um processo por caçar veados em terras particulares. Outra versão diz que Shakespeare teria se mudado para trabalhar como cuidador de cavalos do lado de fora dos teatros, e que assim teria surgido seu interesse na arte da encenação. Um estudioso do século XVIII, Edmond Malone, também especulou que o autor, enquanto morava em sua cidade natal, trabalhou em um escritório de advocacia. Há ainda quem acredite que Shakespeare deu aulas em um vilarejo do interior — ou foi agiota, marinheiro, soldado e tipógrafo. Haja criatividade.

 

Morte

Uma curiosidade sobre Shakespeare é que ele morreu na mesma data de seu nascimento, 23 de abril. No entanto, não se sabe o real motivo do falecimento. Um banco de dados na internet, cujo objetivo é passar todas as informações sobre a vida do dramaturgo para o meio digital, enumera mais de 20 possíveis causas para a morte do autor. Uma delas seria o Mal de Bright, doença em que os vasos sanguíneos renais ficam inflamados. Outra bem conhecida sugere que o autor bebeu todas com seu amigo Ben Jonson e acabou contraindo uma febre fortíssima e fatal.

 

Mulher?

Essa história foi levantada pela jornalista Elizabeth Winkler, em artigo publicado em 2019 na revista norte-americana Atlantic. No texto, Winkler apresenta a história de Emilia Bassano, uma poeta inglesa contemporânea do dramaturgo. Segundo a jornalista, existem vários motivos para acreditar que Shakespeare seria na verdade Bassano. Entre eles a sensibilidade do autor para descrever tão bem o inconsciente feminino e as paisagens de Vêneto, região italiana em que a autora nasceu (e cenário de O Mercador de Veneza e Romeu e Julieta). Outra razão se relaciona com o nome “Emilia”, um dos mais recorrentes nas peças do Bardo.