ESPECIAL | Histórias de um povo 21/12/2021 - 15:14
Um guia para conhecer a literatura contemporânea produzida por autores negros mundo afora
Colson Whitehead
O novaiorquino Colson Whitehead conseguiu um feito raro: venceu por duas vezes o prêmio Pulitzer de ficção, a principal honraria das letras americanas. Como ele fez isso? Com dois romances brutais. O primeiro, The Underground Railroad: Caminhos para a Liberdade, lançado em 2016, narra a fuga da escrava Cora, que usa a ferrovia subterrânea do título para tentar se assentar em lugares diferentes do Sudeste dos EUA, tendo sempre um caçador de recompensas em seu encalço. O livro arrebatou não só a crítica como o coração de leitores ilustres, entre eles Barack Obama. O segundo livro de Whitehead a receber o Pulitzer foi O Reformatório Nickel, baseado em um centro de recuperação de menores que cometeu barbaridades contra meninos (a maioria negros) por mais de 100 anos nos Estados Unidos. Ele é ainda autor de outro petardo literário: o romance Trapaça no Harlem.
Chimamanda Ngozi Adichie
Ela é uma das autoras mais “queridas” da atualidade, com leitores no mundo todo, inclusive muitos fãs no Brasil. Chimamanda ganhou os holofotes com seu caudaloso romance Americanah, uma história épica de amor e de imigração que envolve suas raízes africanas. Ela é autora ainda de outras obras de ficção, como os potentes contos de Meio Sol Amarelo, e o romance de estreia Hibisco Roxo, uma mistura de relato autobiográfico com fabulação. Mas Chimamanda alcançou um público ainda maior com seus livros de não-ficção, como os engajados Para Educar Crianças Feministas e Sejamos Todos Feministas. Sua obra foi traduzida para mais de 30 línguas e apareceu em inúmeros periódicos, como as revistas New Yorker e Granta. Chimamanda vive entre a Nigéria e os Estados Unidos.
Paulina Chiziane
Paulina foi a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. De origem humilde, ela tem na história oral de seu povo um dos trunfos de sua literatura. Ela não se considera uma escritora, mas sim uma “contadora de histórias”. Essa influência é sentida nos dois livros da autora publicados no Brasil: O Alegre Canto da Perdiz e Niketche — Uma História de Poligamia. Nascida em 1955, na província de Gaza, no sul de Moçambique, Paulina fez parte da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), organização que lutava pela independência do país — ocorrida em 1975. Estreou em 1990 com o romance Balada de Amor ao Vento.
Conceição Evaristo
Ela é uma grande referência do movimento negro e da literatura brasileira contemporânea. A mineira Conceição Evaristo mescla relatos pessoais, autobiográficos, à história oral do povo negro. Para isso, a autora criou o termo “escrevivência”, que segundo ela define bem o que é sua literatura. Influenciada pelos relatos de Maria Carolina de Jesus, autora do pioneiro Quarto de Despejo, Conceição é autora de livros como Ponciá Vicêncio e Becos da Memória, sua obra mais festejada. No livro, ela faz um relato emocionante, a partir de seus muitos personagens, sobre a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria. A escritora é ainda autora de livros de poesia.
James Baldwin
Decano desta lista, o americano James Baldwin é o único que não está vivo. Morreu em 1987, na França. Um dos nomes mais destacados da literatura americana do século 20, é autor de uma vasta obra de ficção e não-ficção. Entre seus principais temas, sobressaem-se a luta racial e as questões de sexualidade e identidade. É o que se encontra no romance Terra Estranha, publicado em 1962, em que o pano de fundo é a rica cena de jazz de Greenwich Village, em Nova York, na década de 1950. O personagem principal é Rufus, um baterista negro em decadência, que se envolve com Leona, uma mulher branca nascida no sul dos Estados Unidos. Dessa relação complexa em sua origem, desdobram-se temas caros a James Baldwin, como raça, nacionalismo, identidade, depressão e bissexualidade.
Luiz Rebinski é jornalista e autor do romance Um Pouco Mais ao Sul (2016). Foi editor do Cândido entre 2011 e 2019 e atualmente é editor-assistente do jornal Rascunho.