ESPECIAL | Erotismo catalogado 30/07/2021 - 13:53

Erotismo catalogado

Marcio Renato dos Santos 


A professora da USP Eliane Robert Moraes pesquisou durante quase uma década até chegar ao arquivo final da Antologia da Poesia Erótica Brasileira (2015). Ela optou por uma ordenação cronológica, as datas de nascimento dos autores, e teve como modelo publicações do gênero, como a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia (Lisboa, 1966) e a Antologia da Poesia Erótica Espanhola e Hispano-americana, editada por Pedro Provencio (Madri, 2003). 

De acordo com Eliane, o critério da ordem cronológica tem a seu favor o fato de permitir a apreciação das mudanças de conteúdo, expressão e forma ocorridos na poesia brasileira ao longo de mais de quatro séculos, "conferindo uma dimensão histórica à fabulação literária". 

Assim, ao consultar a publicação respeitando a sequência das páginas, os leitores acompanham a transformação da linguagem, para (quase) um mesmo tema, empreendida, entre outros, por Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst e Ana Cristina Cesar.

Em 2018, ela publicou O Corpo Descoberto — Contos Eróticos Brasileiros (1852-1922), obra que, ao invés de antologia, a organizadora prefere definir como seleção. "Embora apresente uma amostra da escrita erótica produzida no Brasil entre 1852 e 1922, o livro se restringe exclusivamente ao conto, não se aventurando em outros gêneros da prosa de ficção", comenta. 

 

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Antologia da Poesia Erótica Brasileira apresenta ao leitor nossa lírica erótica desde o século XVII até os dias de hoje. Foto: Reprodução

 

Diferentemente do que fez na antologia de poemas, a seleção dos textos seguiu um critério temático — segundo ela, mais produtivo do que a ordem cronológica pelo fato de que o conjunto abrange apenas 70 anos da história literária brasileira.

"Por tal razão, considerei interessante a perspectiva de reunir um grupo de contos que dialogassem entre si, independentemente de sua vinculação aos diversos movimentos literários que se sucederam no período", diz a antologista, que, a partir dessa perspectiva, teve a meta de iluminar questões que dizem respeito ao imaginário erótico, "abrindo ao leitor a fértil possibilidade de que um conto possa explicar o outro". 

O Corpo Descoberto — Contos Eróticos Brasileiros (1852-1922) traz, em 472 páginas, 10 seções, cada uma com contos que dialogam com uma determinada nuance erótica. Por exemplo, na seção "Da sensualidade dos tísicos", há as seguintes narrativas: "Adélia", de Lima Barreto, "Tísico", de Oscar Rosas, "Tísica", de Cruz e Souza, "Idílio roxo", de Gonzaga Duque e "Palestra a horas mortas", de Medeiros e Albuquerque. 

Contos de João do Rio, Júlia Lopes de Almeida, Olavo Bilac, Lima Barreto e do incontornável Machado de Assis podem ser lidos em outras seções do livro. "Tentei sempre buscar a fonte escrita mais antiga mas, no  intento de tornar a leitura mais fluente, a grafia de algumas palavras foi atualizada", observa a pesquisadora que prepara uma continuação de O Corpo Descoberto — Contos Eróticos Brasileiros (o lançamento está previsto para 2022).