De Escritor para Escritor | Rodrigo Garcia Lopes 26/06/2020 - 12:02

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Foto: Elisabete Ghisleni

 

1. Não se limite apenas a escrever no computador. O Word e o PDF nos enganam muitas vezes, dando a falsa aparência de que o texto está terminado e perfeito. O teste da gaveta é indolor, barato e costuma ser eficaz.

2. Não acredite em poeta ou escritor que diz evitar ler poesia (ou prosa) porque tem medo de se influenciar. Lembre-se do que disse o velho Pound: “Deixe-se influenciar pelo maior número possível de grandes artistas, mas tenha a honestidade de reconhecer sua dívida, ou de procurar disfarçá-la”.

3. Carregue uma caderneta e caneta sempre com você. Tenha à mão cadernos e blocos onde você jogue pensamentos, frases entreouvidas, expressões idiomáticas interessantes, ideias, palavras, etimologias, acontecimentos, versos, cenas, esqueletos de poemas, situações e citações interessantes, esquemas, mapas, bibliografias, coisas que você lê, escuta, sente, olha, percebe. Podem ser úteis em momentos de bloqueio criativo. Além disso, ali provavelmente tem material para desencadear um novo poema ou uma história, um personagem, sabe-se lá. 

4. Lembre-se sempre da frase de Robert Graves: “Não se ganha dinheiro com poesia, mas também não se ganha poesia com dinheiro”. Seja teimoso e não desista.

5. Escreva e deixe visível na parede, num pedaço de papel, a frase: Poesia não é prosa empilhada em linhas cortadas aleatoriamente.

6. Anote seus sonhos, se os tiver. Quando acordado, mantenha os sentidos sempre bem abertos. Esteja aberto para a poesia.

7. Aprenda outra (s) língua (s). Nem que seja o bastante para praticar a tradução de poemas que você adorou e gostaria de recuperar de alguma forma, em sua língua, aquele momento privilegiado de criação. Tradução como exercício de alteridades, de outras vozes e estilos. Encare a tradução de poemas e poetas como uma pequena academia de ginástica poética ou laboratório textual.

8. Esta é a mais importante. Leia. Muito. Poesia (se essa for sua praia), mas não apenas. Todo dia, se possível. Poesia de qualidade, de vários períodos diferentes, de várias tendências, culturas, países. Não há um grande poeta ou escritor que não tenha sido também um grande leitor. Leia de tudo.

9. Escolha uma forma fixa (existem inúmeras) e escreva seguindo a restrição que ela impõe e / ou a estética que propõe. Isso fará com que você tenha de usar toda a sua imaginação e talento. Essa restrição pode resultar, paradoxalmente, numa liberdade, e surpreender você. Sempre esteja aberto a desafios.

10. Inspire experiência, expire poesia (Muriel Rukeyser).

 

Rodrigo Garcia Lopes é poeta, compositor, romancista e tradutor (de Arthur Rimbaud, Walt Whitman, Sylvia Plath, Laura Riding e Marcial, entre outros). Publicou seis livros de poemas: Solarium (1994), visibilia (1996), Polivox (2001), Nômada (2004), Estúdio Realidade (2013) e Experiências Extraordinárias (2015). Leia aqui um poema inédito.