CONTO | Lizziane Negromonte Azevedo 21/12/2021 - 13:15

Olha pra o céu

 

Olha pra o céu, meu amor, olha. Olha só um pouquinho, me faz esse favor, esse amor, esse carinho, esse denguinho. Desamarra essa cara, homem! Não te peço mais nada, só olha. A noite está tão clara! Tira a cara da cerca e pastoreia as estrelas. Vê como o céu está lindo, vestido de brilho, iluminando o sítio. Ah, eu é que não perco um show desses por nada, assim de graça. Você me chama de boba, diz que pareço uma doida, mas não larga minha saia, não sai da minha aba, dentro da minha casa. Engraçado, NÉ?! A vida não é só essa lida bruta não, homem. Tira esse gibão da alma e respira com calma essa brisa fria. Bestagem é essa?! Bestagem é essa?! Tu é que não sabe o que perde, com esse teu jeito. Parece até um lajedo, de tão duro. Não precisa olhar assim de cantinho não, parecendo um bicho assustado. Deixa esses teus olhos saírem da toca e correrem no campo aberto do céu, que eles se banhem no brilho das estrelas e saltem de volta pra casa trazendo luz. Eu, se pudesse, deixaria meus olhos entre elas. Nunca mais voltaria pra esse chão duro, o sol cutucando a vista, fazendo a gente cegar. O céu fica ainda mais lindo no São João, né não?! A festa mais gostosa da vida. Viu a estrela cadente?! Passou disfarçada entre os rojões que acabaram de soltar. A quadrilha começou, tá ouvindo?! O que é que tu tem, hein? Fala, vai ficar mudo a noite toda?! Até agora tu só soltou esses teus resmungos! E como é que eu poderia falar, se tu não para um minuto?! Trouxe uma surpresa. Adivinha o que é. Não, que nada, não chegou nem perto. Posso dizer o que é? Vou te levar pra Estrela. Agora é você que pensa que eu sou doido, né não?! Parar de RIR, como? Tu com essa cara abobalhada, mulher! Só tem um detalhe, é viagem só de ida, viu? A gente vai mudar de vida, mulher! Nunca mais sertão, sol, seca, calor, quentura, mormaço, lata d’água na cabeça. No Sul o sofrimento veste casaco. Essa vida acinzentada daqui vai pra o espaço, mulher! Seca essa lágrima, amor. Vai dar tudo certo. Nossa Estrela vai brilhar. Olha pra o céu, meu amor, olha! Vê... o balão vai subindo.


 

Nascida em Campina Grande (PB), Lizziane Negromonte Azevedo é advogada, escritora e autora, entre outros livros, de A Vírgula e Outros Pontos (Penalux), Lamento das Pedras (EDUEPB) e (edição da autora). O texto publicado pelo Cândido foi produzido durante uma oficina online de leitura e criação de contos promovida pela Biblioteca Pública do Paraná entre os meses de agosto e outubro e ministrada pelo escritor Luiz Felipe Leprevost, atual diretor da instituição.