Na Biblioteca de Sandra M. Stroparo

A casa-biblioteca

A professora da Universidade Federal do Paraná Sandra M. Stroparo mostra seu acervo de 7 mil livros, que está distribuído por quase todos os cômodos de seu apartamento


Luiz Rebinski
Fotos: Kraw Penas
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A professora e tradutora Sandra M. Stroparo tem a vida pautada pelos livros. Além dos títulos que a auxiliam em seu trabalho na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde leciona desde 1998 no curso de Letras, há livros sobre os mais diversos assuntos em sua biblioteca (de guias culinários a tratados sobre o ioiô). 

Casada com o também tradutor e professor Caetano W. Galindo, eles “juntaram as bibliotecas” em 2003, o que resultou em um acervo que hoje é de aproximadamente 7 mil livros. Para guardar tudo, o casal transformou o apartamento em que vivem no bairro Alto da XV, em Curitiba, em uma grande biblioteca. Não há um cômodo reservado aos livros. Eles estão distribuídos pela casa toda. Só não há prateleiras no banheiro. Apesar da quantidade, tudo está em seu devido lugar. Não há pilhas de livros pelos móveis, por exemplo.

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O acúmulo de volumes e a falta de espaço obriga Sandra a fazer doações de tempos em tempos. Só no último semestre, foram mais de 500 títulos, em geral direcionados a alunos da UFPR. “Infelizmente já não há mais espaço, mas é difícil parar de comprar. Nos últimos anos, no entanto, tenho adquirido também muitos livros digitais.” 

Em 2012 Sandra concluiu doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O tema era o poeta francês Stéphane Mallarmé (1842-1898) e parte do trabalho consistia em traduzir trechos da correspondência do autor, que foi publicada na França entre 1959 e 1985. Para conseguir os 11 volumes com as missivas do escritor, a tradutora mobilizou livreiros e amigos de diversas partes do mundo, como Canadá e Austrália. “No Brasil, não conheço nenhuma biblioteca, privada ou pública, que tenha essa coleção”, diz. 

Aliás, Mallarmé faz parte do “pacote moderno” de poetas franceses da segunda metade do século XIX que Sandra aprecia muito. Uma das estantes de sua biblioteca é repleta de obras, no original, de autores como Charles Baudelaire, Paul Valéry e Arthur Rimbaud, entre outros. 

Mas o acervo vai muito além do interesse profissional da tradutora. Há muitos livros sobre história da arte, literatura brasileira (em especial de poesia) e teoria da literatura. Uma biblioteca interessante e diversificada, que o Cândido mostra a seguir.

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Cinemateca (2008), de Eucanaã Ferraz

“O Eucanaã recupera e dá nova cara à nossa tradição poética. Algumas pessoas o criticam por isso, mas ele não está preso ao passado, pelo contrário, consegue um resultado interessantíssimo por meio do lirismo.”

 Stéphane Mallarmé, Correspondance (1959-1985), 11 Volumes 


“Mallarmé morreu em 1898 e até 1959, quando suas cartas começaram a ser publicadas, a recepção crítica de sua obra foi tortuosa. A correspondência do autor também é importante para entender vários aspectos de sua produção, que foi essencial para o nascimento da poesia moderna.” 

A história da arte (1950), de E. H. Gombrich 

“Já dei aulas sobre história da arte e essa é uma área que me interessa muito. O livro do Gombrich é uma referência que sempre indico aos meus alunos. É um ótimo resumo dos movimentos artísticos através dos séculos.”

Lavoura arcaica (1975), de Raduan Nassar 


“Tenho vários livros em primeira edição que comprei em um sebo. Os títulos eram do crítico Temístocles Linhares. Entre eles está Lavoura arcaica. É interessante notar, comparando com as edições mais recentes, como o escritor mudou frases e palavras. Esta edição também traz uma posfácio em que Raduan fala das referências que aparecem na obra.”

O Vampiro de Curitiba (1964/1965), de Dalton Trevisan 


Lançado “oficialmente” em 1965 pela editora José Olympio, o livro mais famoso de Dalton Trevisan teve outra versão, feita e distribuída pelo próprio autor, um ano antes do lançamento nacional. Sandra conseguiu seu exemplar em um sebo de Curitiba. 

Tratado dos anjos afogados (2008), de Marcelo Ariel 


“O Marcelo Ariel vive na periferia de São Paulo e é sobre os problemas de uma grande metrópole que trata sua poesia. Ou seja, fala de realidades que não cabem no mundo. E o que impressiona também é que ele tem uma enorme leitura da tradição poética.”

Poesia e prosa (1973), de Carlos Drummond de Andrade 


“Ganhei esse livro de aniversário da minha mãe quando ainda estava na graduação. Drummond é um dos meus poeta
s preferidos. Acho-o fundamental para entender o século XX. Ele é o melhor resultado de nossa poesia. Tenho uma edição igual, da editora José Aguilar, com a poesia do João Cabral de Melo Neto.”

Poésies et un poème (1947), de Stephane Mallarmé 

“Esse é o primeiro livro do Mallarmé publicado no Brasil. Mas não se trata de uma tradução. Os poemas estão em francês. O livro foi feito por uma editora brasileira, mas impresso em Roma, na Itália. Foi com esse título que os poetas concretos — os irmãos Campos e Décio Pignatari — conheceram o poeta francês. A partir daí começaram a disseminar a obra de Mallarmé no Brasil.”

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