Literatura Paranaense | Anos 1940

Contra a Província 

Dedicada a “todos os Joaquins do Brasil”, a revista Joaquim nasceu mais para combater do que para contemplar. Dalton Trevisan, Erasmo Pilotto e Antonio Walger, que aparecem como “diretores” do periódico na primeira
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edição, queriam mesmo era se desvencilhar do ambiente cultural que se impunha na província nos anos 1940. Além de textos provocativos, que tentavam demolir a reputação da geração anterior, a revista, publicada entre abril de 1946 e dezembro de 1948, incorporou entre seus colaboradores nomes que compunham a linha de frente da cultura brasileira, como Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Martins, Guido Viaro, Otto Maria Carpeaux, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Sergio Milliet, Lêdo Ivo e Mario Pedrosa. O artista Poty Lazzarotto, que anos depois seguiria ao lado de Dalton em novas parcerias, também teve participação relevante ao longo dos 21 números da Joaquim. A revista era editada com recursos da família do escritor, o que possibilitou ao periódico a liberdade para iniciar polêmicas. Logo na segunda edição, o alvo foi o poeta simbolista Emiliano Perneta, figura referencial da cultura literária paranaense. Em “Emiliano, poeta medíocre”, Dalton afirma que Perneta fazia uma poesia de “casinha de chocolate” e sua inspiração era “rasa como capim”. A revista passou a reverberar nacionalmente. Fato que, cogita- se, foi determinante para que deixasse de existir. Após o número 21, sem nenhum aviso aos leitores, Joaquim parou de circular. Ainda assim, sua iconoclastia reverbera e incomoda até hoje.


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O contista

Newton Sampaio nasceu em 1913, em Tomazina, no Norte paranaense. Aos 13 anos foi enviado a Curitiba para estudar no Internato do Ginásio Paranaense. Ainda na capital do Paraná começa sua carreira na imprensa, em jornais como O Dia, de Curitiba, e O Jornal, de Siqueira Campos. Em 1932 ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No final de 1934 vai para o Rio de Janeiro, onde estuda na Faculdade de Medicina de Niterói. Após se formar, em dezembro de 1937, recebe o diploma de médico, atividade que nunca exerceria profissionalmente por conta de uma tuberculose que o mataria quatro meses depois de formado. A trajetória literária do escritor também é turbulenta. Sua produção, toda ela dedicada ao conto, nunca foi editada comercialmente e seus trabalhos póstumos foram todos “achados” em periódicos do Paraná e do Rio de Janeiro, os dois Estados em que morou e publicou até morrer, aos 24 anos, em um sanatório da Lapa, a 60 quilômetros de Curitiba. Mesmo assim, o escritor sacudiu a cena literária paranaense com sua literatura, que transitava entre cenários rurais e urbanos e, no plano narrativo, valorizava a objetividade, sem descrições excessivas. Entre seus admiradores, estavam Dalton Trevisan e Wilson Martins. Seu livro Irmandade ganhou um prêmio póstumo da Academia Brasileira de Letras (1938). Nos anos 2000, a Imprensa Oficial do Paraná edita, em um único volume, os textos de Irmandade e de Contos do sertão paranaense, intitulado Contos reunidos. E em 2013 a Biblioteca Pública do Paraná compilou toda a produção conhecida do escritor no livro Ficções.
 

                                                                                                                                                            

Tempos da Guaíra
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A Editora Guaíra é o caso mais bem-sucedido do meio editorial curitibano. Fundada por Oscar Joseph De Plácido e Silva, em 1939, publicou tanto autores locais (Romário Martins) quanto escritores festejados nacionalmente (Joel Silveira). A empresa se destacou nos anos 1940, quando, excetuando a Editora Globo (de Porto Alegre), as principais casas editoriais estavam instaladas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Entre as coleções de livros, a Guaíra colocou no mercado “Estante Americana” (que publicou uma uma trilogia de romances do escritor norte-americano John Dos Passos: Paralelo 42, 1919 e Dinheiro graúdo), “Romances Brasileiros”, “Contos Brasileiros” e “Estante do Pensamento Social”. O trabalho da editora curitibana despertaria a curiosidade de intelectuais e leitores de todo o Brasil. Mas um incêndio, em 1961, colocou um inesperado ponto final na empresa instalada na rua Travessa dos Editores, no bairro Mercês, em Curitiba.


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A poeta

Filha de imigrantes ucranianos, Helena Kolody nasceu em Cruz Machado (PR), em 1912. Ao longo de seu percurso, também se dedicou ao magistério. Durante 23 anos lecionou no Instituto de Educação, no centro de Curitiba. A autora escreveu, e publicou, desde os 16 anos até 2004, quando morreu, aos 91 anos. A partir do primeiro livro, Paisagem interior (1941), que já trazia poemas curtos e haicais, a poeta buscou, obstinadamente, a síntese. Para Paulo Leminski, “Helena chega ao gol com menos toques na bola”. Ela deixou uma obra vasta, quase toda custeada com recursos próprios. Entre seus principais trabalhos, destacam-se Infinito presente (1980), Poesia mínima (1986) e Reika (1993). Em 1988, a Criar Edições publicou Viagem no espelho, coletânea que reúne toda a obra de poeta e alguns poemas até então inéditos em livro.


O gênio 

Dalton Trevisan (na foto, de camisa branca) transita no cenário literário curitibano desde os anos 1940. Sua primeira aparição foi na revista Tingui (1943), em que se apresentava como poeta. Depois, mais maduro, esteve à frente de Joaquim, o periódico que provocou celeuma no meio cultural da cidade e fez história nacionalmente. Ao longo da década
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seguinte, continua tentando se afirmar como escritor ao lançar livros que, anos depois, renegaria. É só em 1959 que finalmente estreia nacionalmente, com Novelas nada exemplares, obra que até hoje permanece como um de seus trabalhos mais emblemáticos. Com uma bibliografia extensa, o escritor tem se dedicado há mais de cinco décadas ao conto. Tornou-se um mestre da narrativa curta e publicou alguns dos clássicos brasileiros do gênero. Entre suas principais obras, estão O vampiro de Curitiba (1965), A guerra conjugal (1969), O pássaro de cinco asas (1974) e Pico na veia (2002). Seus textos foram adaptados para o cinema e o teatro inúmeras vezes, além de ganharam tradução em diversas línguas. Com uma linguagem minimalista e histórias que giram em torno de relações humanas conflituosas, o escritor criou um universo particular ao situar seus personagens em um ambiente falsamente realista, criando uma mítica Curitiba. Avesso a qualquer contato com pessoas que não conhece, passou a ser chamado de Vampiro. Laureado inúmeras vezes no Brasil, em 2012 venceu o Prêmio Camões de Literatura, o mais importante da língua portuguesa.