Especial Crítica Literária | Galeria de críticos

Galeria de Críticos


Sílvio Romero

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Nascido em abril de 1851, Sílvio Romero foi um dos críticos mais influentes de seu tempo — e também um exímio polemista. Manteve, durante algum tempo, certa má vontade para com a obra de Machado de Assis. Como polemista, destaca-se sua permanente luta com José Veríssimo, de quem o separavam fortes divergências de doutrina, método, temperamento, e com quem discutiu violentamente. Nesse âmbito, reuniu as suas polêmicas na obra Zeverissimações ineptas da crítica (1909). Romero foi um pesquisador bibliográfico sério e minucioso. Preocupou-se, sobretudo, com o levantamento sociológico em torno de autor e obra. Sua força estava nas ideias de âmbito geral e no profundo sentido de brasilidade que imprimia em tudo que escrevia. A sua contribuição à historiografia literária brasileira é uma das mais importantes de seu tempo. Romero faleceu em 18 de julho de 1914.



Otto Maria Carpeaux

Verdadeira enciclopédia da literatura universal, Carpeaux (pronuncia-se carpô) é autor da monumental História da literatura ocidental, um estudo em que o crítico analisa uma gama enorme de assuntos, todos
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relacionados com a cultura e literatura ocidentais. Os quatro volumes da História da literatura ocidental trazem análises dos mais diferentes movimentos da literatura, como o Classicismo e o Barroco, além de estudos de autores como Cervantes, Shakespeare e Molière. Carpeaux protagonizou também um dos episódios mais pitorescos da literatura mundial. Credor de uma editora falida de Berlim, o crítico foi cobrar a dívida e recebeu a seguinte oferta do editor: “Pagar não posso, querido, mas se você quiser, pode levar, em vez de pagamento, esse exemplar e, se quiser, a tiragem toda. O Max Brod, que teima em considerar gênio um amigo dele, já falecido, me forçou a editar esse romance danado. Estamos falidos. Nem vendi três exemplares. Se você quiser pode levar a tiragem toda. Não vale nada”. O livro se chamava O processo. E o autor, Franz Kafka.


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Andrade Muricy

Nascido em Curitiba, em 1895, José Cândido de Andrade Muricy se destacou como um dos principais críticos musicais e literários do Brasil. Formou-se em direito em 1919 e viveu na Suíça de 1923 a 1925. Em 1927, fundou a revista Festa e, a partir de 1937, foi crítico musical do Jornal do Comércio, onde escrevia regularmente um famoso rodapé. Em 1972, Muricy recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Entre seus principais livros, destacam-se Nova literatura brasileira (1936), Panorama do movimento simbolista (1974) e Cruz e Souza (1974).





Antonio Candido

Candido estreou como crítico em 1941, na revista Clima, fundada por ele e pelo crítico de teatro Décio de Almeida Prado. Em 1959 lança sua obra mais influente e polêmica: Formação da literatura brasileira, na qual
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estuda os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro. Em 1974, Candido se torna professor efetivo de Teoria literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (USP). Fernando Henrique Cardoso e Roberto Schwarz foram alguns de seus alunos. Entre 1956 e 1960 escreveu como colaborador no Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo. Em 1978 se aposentou, mas continuou atuando como professor do curso de Pós-Graduação e foi um crítico influente tanto na vida literária como na política, defendendo as ideias do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e atuando no Grupo Radical de Ação Popular. Em 2011 Antonio Candido foi o grande homenageado da Festa Literária de Paraty (FLIP).
(Foto: Divulgação Flip/2011)


Alcir Pécora

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Alguns ex-repórteres da Ilustrada, suplemento de cultura da Folha de S.Paulo, contam que, quando a edição de sábado — dia em que há algum espaço para a literatura — não tem conteúdo instigante, o editor tende a solicitar uma resenha a Alcir Pécora. A finalidade, de acordo com o que dizem os ex-repórteres, é esquentar a edição. Ou seja, com a presença de um texto de Pécora, seguramente a edição terá alguma ressonância. O crítico literário, professor da Unicamp, não costuma elogiar escritor brasileiro vivo. Em geral, ele bate. Forte. E há repercussão, choradeira e gritaria por parte de quem leva a pancada e de seus amigos, agregados e fãs. Na revista Cult, onde também escreve, a prática é similar. Pécora procura ler e aponta eventuais qualidades, mas, em média, coloca o dedo nas feridas. Jovens escritores paulistanos ou radicados em São Paulo, sobretudo os que frequentam bares da Vila Madalena, não gostam dele. Pécora não perde o sono nem dá “beijinho no ombro”. Simplesmente segue a ler e decifrar, de sua maneira, com muito repertório, o fenômeno literário. Não poucos afirmam: “é um dos melhores críticos brasileiros, talvez o melhor.”
(Foto: Shigueo Murakami)


Temístocles Linhares
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Um leitor apaixonado pela literatura. Essa é uma possível definição para Temístocles Linhares (1905-1993), crítico literário nascido em Curitiba que atuou com destaque nas páginas de O Estado de S.Paulo. Linhares sabia que para ser crítico literário não basta apenas ler ficção e poesia: é imprescindível conhecer o contexto cultural como um todo. Professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR), escreveu obras sobre a conjuntura brasileira, entre as quais Paraná vivo: um retrato sem retoques (1953) e História econômica do mate (1968), ambas publicadas na célebre coleção Documentos Brasileiros, da editora José Olympio. Pensador da ficção brasileira, é autor de um livro fundamental para compreender a longa narrativa tupiniquim: História crítica do romance brasileiro (1987), em três volumes. Ao mesmo tempo em que vivia, lia e produzia as críticas, também manteve um diário, secreto, que foi publicado em seis volumes pela Imprensa Oficial do Paraná, na gestão Miguel Sanches Neto, com o título Diário de um crítico, com as anotações de 1957 a 1982.


Álvaro Lins

Considerado o “imperador” da crítica literária, Álvaro Lins (1912-1970) militava na imprensa há 70 anos, período no qual os cursos universitários de letras quase não existiam e, devido a isso, eram os homens de jornal impresso que analisavam as obras literárias na parte inferior dos diários, os chamados “rodapés críticos”. Nascido em Car
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uaru (PE), começou a atuar no jornalismo no Diário de Pernambuco. Posteriormente, já no Rio de Janeiro, afirma-se como crítico literário no Diário de Notícias, nos Diários Associados e no Correio da Manhã. Lins era respeitado, temido e, não demorou muito, entrou em rota de colisão com outras presenças da vida cultural. Um dos conflitos mais conhecidos de Lins teve como oponente o professor Afrânio Coutinho que, após um período de estudos nos Estados Unidos, retornou ao Brasil anunciando que era a hora de estabelecer uma crítica literária científica. Coutinho queria alfinetar Lins e os críticos impressionistas dos rodapés. Lins sentiu o golpe, uma vez que a campanha de Coutinho foi intensa, insistente e contínua. A saída de cena de Lins, nos anos 1970, é o início do fim dos rodapés literários, que teria ainda uma sobrevida com Wilson Martins (1921-2010), considerado, por muitos, o último dos moicanos — leia mais no texto publicado na página X.



Tristão de Athayde

Alceu Amoroso Lima (1893-1983) fez história na imprensa brasileira usando o pseudônimo Tristão de Athayde. Começa a militar na crítica literária em 1927 e o material produzido até 1933 integra o livro Estudos. Por
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influência do intelectual Jackson de Figueiredo, converte-se ao catolicismo e, então, vem a ser uma das mais atuantes vozes da Igreja Católica em todo o país. Para se ter uma ideia do empenho dele com a causa, basta citar que Tristão de Athayde esteve à frente do Centro Dom Vital, instituição que reunia os líderes católicos no Rio de Janeiro. Ele é considerado o mais importante intelectual católico do país e, apesar de sua presença como crítico por anos na imprensa, é conhecido, sobretudo, pela sua postura contra o regime militar, principalmente devido aos textos que publicou no Jornal de Brasil e na Folha de S.Paulo. É autor de algumas obras, entre as quais Introdução à economia moderna (1930), Preparação à sociologia (1931), No limiar da idade nova (1935), O espírito e o mundo (1936) e Idade, sexo e tempo (1938).



Guilhermino César

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O mineiro Guilhermino César (1908-1993) foi morar ainda menino em Cataguases, onde teve a oportunidade de frequentar o Grêmio Literário Machado de Assis, integrando o grupo que fundou a mítica revista modernista Verde em 1927. César chegou a assinar o manifesto Verde ao lado de Rosário Fusco (1910-1977), Ascânio Lopes (1906-1929) e outros. Na publicação modernista, onde César foi redator, havia espaço para colaboração de nomes que consagrariam nacionalmente, como Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. Posteriormente, viveu uma temporada em Belo Horizonte, onde estudou Direito e atuou na imprensa cultural. Em seguida, migrou para Porto Alegre e se afirmou como cronista e, principalmente, crítico literário no jornal Correio do Povo. Lecionou literatura brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e se aposentou em 1978. Publicou ensaios sobre teatro, história e literatura do Rio Grande do Sul. Em 1990, recebeu homenagem como patrono da tradicional Feira do Livro de Porto Alegre.