Caixa-estante
Entre livros e melodias
Com apresentações semanais, projeto “Música na Biblioteca” traz à BPP diversidade de ritmos da produção curitibana
Daniel Zanella
Desde o começo de abril, o característico silêncio das salas de leitura da Biblioteca Pública do Paraná tem sido quebrado. Mas, neste caso, por uma boa razão. “Música na Biblioteca” é mais um projeto que visa transformar a BPP em um espaço de convivência, trazendo para o prédio histórico pessoas que não não costumam frequentar a Biblioteca com regularidade. Realizado sempre às sextas-feiras, às 17h30, o projeto apresenta, gratuitamente, as diversas facetas da produção musical curitibana. A cada edição, um gênero musical será escolhido. Estão programadas apresentações de MPB, música barroca, chorinho, música indiana, tango e samba, que serão realizadas no Hall Térreo da BPP, com duração média de uma hora.
O projeto estreou no último dia 14 de abril om o duo formado pela instrumentista e compositora Ana Sônia Barros e a pianista Ana Cláudia Ibrahim. Elas apresentaram um repertório eclético, com influências de música erudita, MPB e clássicos do rock & roll. Para Ana Sônia Barros, a iniciativa é uma oportunidade única de trazer ao público da BPP a diversidade do universo musical. “É fantástico ver famílias inteiras prestigiando a música erudita, apreciando o trabalho de artistas locais. Muitas vezes, no dia a dia, as pessoas não têm acesso a este tipo de conteúdo, por isso, é importante que os espaços culturais da cidade abram as portas para outros tipos de propostas”, comenta Ana Sônia. Já a pianista Ana Cláudia Ibrahim acredita que a abertura da BPP à música enriquece a programação local e beneficia os usuários. “A gente vê que as pessoas se interessam por música erudita, mas, muitas vezes, os locais culturais que elas frequentam não oferecem esse tipo de programação. Quando a Biblioteca Pública oferece isso, ela também cresce, já que leitura e música estão interligadas, são linguagens que se complementam. Poderíamos, inclusive, ter música boa todos os dias”, sugere a pianista.
História
O projeto teve dois momentos antes de sua consolidação. Em 2011, durante a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, ocorrida entre 24 e 29 de outubro, o pianista e tecladista Marcelo Torrone, integrante da banda curitibana Wandula, se apresentou durante cinco dias na Biblioteca, com performances elogiadas, que atraíram grande público. Em março de 2012, na comemoração dos 155 anos da Biblioteca, foi realizada uma série de encontros, com diversos músicos da cidade, que se revezaram durante uma semana no palco armado no hall da BPP, moldando o formato que o projeto iria adquiri na sequência.
Para Tatjane Garcia, responsável pela curadoria do “Música na Biblioteca”, o objetivo das apresentações é mostrar ao público a versatilidade da produção musical curitibana e estimular a convergência entre as diversas manifestações artísticas. “Curitiba é uma cidade musicalmente privilegiada. Temos bons nomes em muitos gêneros”, afirma.
Corroborando a opinião da curadora, a programação de aniversário da BPP trouxe artistas de diferentes vertentes, mas todos reconhecidos no cenário local, como o violonista curitibano Murillo da Rós, o ex-guitarrista da Legião Urbana Kadu Lambach, que trouxe um repertório composto de clássicos do rock nacional, o duo de flauta e piano com Ana Sônia Barros e Ana Cláudia Ibrain, que misturou o erudito e o popular em seu repertório, e o chorinho do clarinetista Sérgio Albach, que foi acompanhado pelo violonista Lucas Melo e do bandolinista e compositor Daniel Migliavacca. Para o estudante Matheus Salomão, que tem acompanhado as apresentações na BPP, é importante trazer outros tipos de experiência a um ambiente de leitura. “A minha relação com a Biblioteca é semanal, venho sempre emprestar livros, ler os periódicos. Com a música, o tempo que dedico à cultura é ainda melhor aproveitado.”
Programação
Segundo Tatjante Garcia a presença de músicos na Biblioteca está em consonância com os vários outros projetos hoje em andamento na BPP, que visam torná-la um espaço cultural referencial, vivo e atuante, da cultura curitibana e paranaense “A Biblioteca Pública tem se tornado um espaço cultural diversificado que incentiva a arte e a cultura de diversas maneiras. Trazer a música para receber os usuários e integrá-la ao cotidiano da biblioteca é uma delas. Ao investir na integração destas linguagens artísticas, aproximando música, literatura e leitura, por meio de apresentações musicais, estamos propiciando outras formas de leitura aos nossos usuários e visitantes, além de promover uma ação de sensibilização cultura.” Experiente produtora musical, Tatjane elabora a curadoria mês a mês. Ela lembra que os músicos interessados em participar da programação podem encaminhar propostas e currículo para a Divisão de Difusão Cultural da BPP.
Importância
Além de proporcionar o diálogo entre leitura e música, o projeto também tem reunido famílias inteiras nas apresentações. Pensando nas crianças, a BPP criou o “Aventuras Musicais”, de periodicidade mensal e voltado ao público infantojuvenil. Na estreia do projeto, a banda Maxixe Machine fez um show vibrante no palco do auditório Paul Garfunkel, baseado no repertório do disco ABC do Lá-Lá-Lá. Para Thaís Flescher, mãe de dois filhos pequenos, trazer as crianças e os jovens à BPP tem importância fundamental no processo pedagógico. “Eles estão crescendo tendo o universo cultural como algo natural. Toda semana meus filhos escolhem os livros que querem ler e ouvem atenciosamente a programação musical da biblioteca. Às vezes, são eles que me lembram da programação”, afirma. Já advogada Sheila Jorge, mãe de um filho de cinco anos, acha que a BPP realiza uma função social essencial. “São raros os espaços culturais com a diversidade da Biblioteca. Aqui se pode ler, participar de oficinas, conferir peças de teatro e ainda ouvir a produção dos músicos da cidade”.
Com uma cena musical rica e diversificada em Curitiba, o projeto também é uma forma nova de estimular a produção local, abrindo mais um espaço para os músicos e também proporcionando a eles contato com um público diferente. “Temos trabalhado com músicos consagrados na cena musical de Curitiba e também com novos talentos. Alguns artistas estão, inclusive, apresentando trabalhos autorais muito consistentes. Vale destacar que a música tem agradado tanto nosso público externo, quanto interno. Os funcionários da Biblioteca têm acompanhado e aprovado a programação”, diz Tatjane.