Editorial

Em 1968, o crítico Fausto Cunha e o cronista Rubem Braga sentenciaram: “Dalton Trevisan é o maior escritor vivo do Brasil”. Nas quatro décadas que nos separam dos anos 1960, o escritor paranaense tratou de confirmar a sentença, que à época poderia soar exagerada. Dalton não só construiu uma obra imensa, mas, principalmente, criou uma literatura extremamente singular, sem precedentes não só na literatura nacional, mas mundial.

Com obras como O Vampiro de Curitiba, Novelas nada exemplares, Cemitérios de elefantes e A guerra conjugal, seus grandes livros dos anos 1960 e 1970, o escritor tomou para si o papel de principal iconoclasta da literatura brasileira.

Neste mês de junho, Dalton Trevisan completa 87 anos. Da militância cultural na revista Joaquim até o presente momento, foram mais de seis décadas produzindo alta literatura. Quando lançou sua igualmente iconoclasta revista, que balançou os alicerces da cultura local, o escritor tinha apenas 20 anos. Uma trajetória fantástica, que acaba de ser coroada com o Prêmio Camões, considerado o mais importante da literatura de língua portuguesa, e que é lembrada nesta edição, com textos críticos e matérias que procuram passar por diversos aspectos da obra do contista.

Autora de obra referencial sobre Dalton Trevisan, Berta Waldman escreve texto esclarecedor sobre a singular voz literária que o autor criou a partir de personagens humildes, mas que carregam uma carga emocional gigantesca. Gente de toda espécie, como velhos decrépitos, mulheres da noite, maridos traídos, esposas arrependidas, viciados e doentes desamparados. Personagens que transitam por uma Curitiba muito particular, esmiuçada por Roberto Muggiati, grande conhecedor da obra do Vampiro e da urbe, em um texto que resgata a Curitiba perdida de Trevisan. O Vampiro quase nunca é visto, nem mesmo por vizinhos como Caetano Galindo, tradutor que escreve sobre a invisibilidade do contista paranaense. Além disso, um time de grandes ilustradores retratam as idiossincrasias do contista, famoso pela reclusão.

Boa leitura a todos