Cândido indica

Textos caribenhos
(Record, 2006)

Primeiro de uma série de cinco volumes (tratase da reunião da obra jornalística de Gabriel García Marquéz), Textos caribenhos reúne artigos que o autor colombiano publicou na imprensa entre 1948 e 1952. Naquele período, Marquéz (1927- 2014) já misturava elementos da realidade da Colômbia com a sua imaginação, o que ele levaria ao extremo em futuras obras, como Cem anos de solidão, um clássico com meio século de repercussão. Marquéz sempre foi um observador atento, a exemplo do que revelam alguns de seus textos iniciais, como “Cidades com barcos”: “Há cidades com barcos e cidades sem barcos. É a única divisão admissível, a única diferença verdadeiramente essencial”.

Lírico renitente
(7Letras, 2000/2012)

Professor de literatura na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o curitibano Marcelo Sandmann estreou com Lírico renitente, livro em que apresenta algumas de suas influências, seja por meio de epígrafes ou da citação direta e mesmo indireta de obras e autores. Destaque para “Daltonianas”, poema em que dialoga com o imaginário de Dalton Trevisan, sobretudo no primeiro fragmento: “Deu pra beber depois de velha:/ louça suja rolando na mesa,/ pinga na caneca de café”. Outro poema que merece atenção é “Leminskiana”, um tributo a Paulo Leminski: “meio op meio pop/ meio/ vladimir propp/ ao fim & ao cabo/ ops!/ muito rock’n’rollmops”.

Textos Caribenhos
Lírico Renitente
Carmen
A burrice do demônio

Carmen: Uma biografia
(Companhia das Letras, 2005)

Ruy Castro venceu dois prêmio Jabutis com esta que é considerada a maior biografia de um artista já publicada no país. Ao longo de quase 650 páginas, o jornalista não só narra a trajetória de Carmen Miranda como também reconstitui o Rio de Janeiro dos anos 1920 e 1930 e o cenário artístico de Nova York e Los Angeles das duas décadas seguintes. Outro destaque do livro é a disposição do autor em desmistificar certas passagens da vida da cantora — como, por exemplo, sua ligação com a “política de boa vizinhança” entre os EUA e a América Latina e a famosa vaia que ela teria levado no Cassino da Urca após voltar da primeira temporada americana.

A burrice do demônio
(Rocco, 1988)

Psicanalista, escritor e poeta, o mineiro Hélio Pellegrino (1924 — 1988) ficou conhecido por sua militância de esquerda e pelos artigos que publicou na Folha de S.Paulo e no Jornal do Brasil. Lançado pouco depois de sua morte, A burrice do demônio é justamente um apanhado dessa produção, com foco nos últimos seis anos de vida do autor. São 59 textos sobre política, religião, amor, arte, Cristo, Marx, Freud e, acima de tudo, liberdade (segundo ele, “o centro da condição humana”). Sua maior qualidade, no entanto, é uma característica cada vez mais rara no debate público: a ponderação — o que tornaria Pellegrino um pensador inviável em 2017.