Especial do mês: A biblioteca da polarização 28/07/2020 - 10:01

Pêndulo ideológico

O jornalista Murilo Basso mostra como a polarização política impulsiona o mercado editorial e destaca os livros que fazem a cabeça da direita e da esquerda no Brasil

 

No decorrer de junho de 2013, manifestações populares tomaram as ruas do Brasil, um capítulo da história que ficou conhecido como Jornadas de Junho. Com palavras de ordem como “vem pra rua, vem contra o aumento”, o movimento chegou a reunir quase 1,5 milhão de pessoas em um único dia, que se mobilizaram inicialmente pelas redes sociais e foram a público protestar contra o reajuste nas tarifas do transporte público.

O episódio ganhou contornos muito maiores. O tempo mostrou que as Jornadas de Junho foram o estopim para a ascensão de uma nova onda conservadora no país. Então presidente do Brasil, Dilma Rousseff viu sua aprovação de aproximadamente 57% à época despencar pela metade. As jornadas continuaram a reverberar até 2016, com o processo de impeachment da petista e quando Brasília viu, pela primeira vez, um muro de metal ser erguido em plena Esplanada dos Ministérios para dividir manifestantes favoráveis e contrários ao governo. A coroação do conservadorismo contemporâneo nacional se deu com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência da República.

De lá para cá, tem-se observado uma intensa polarização política e ideológica na sociedade brasileira. Uma disputa que tem reflexos no mercado editorial nacional, na medida em que a população passa a se interessar mais por política. No ano passado, a média mensal de vendas do segmento foi de 30 mil exemplares, de acordo com medição da Nielsen Bookscan divulgada em janeiro de 2020. Para entender essa dinâmica, porém, é necessário, primeiro, conhecer as obras fundamentais de cada uma das duas linhas que desenham o cenário da política atual.

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A produção intelectual de Marx e Engels fundamentou a perspectiva de esquerda. Foto: Reprodução

 

Marxismo
Falar sobre livros de esquerda exige falar sobre Karl Marx e Friedrich Engels: a produção intelectual dos dois formou a base para o entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o capitalismo na perspectiva de esquerda. O primeiro era filósofo, sociólogo, historiador, economista, jornalista e revolucionário socialista; o outro, empresário industrial e teórico revolucionário.

A relação dos dois é também um reflexo da sua ideologia: Engels ajudava a financiar o trabalho intelectual de Marx, em uma espécie de mecenato. Após a morte de Marx, Engels assumiu a tarefa de organizar os diversos manuscritos incompletos ou inéditos deixados pelo filósofo. Com isso, tornou-se o primeiro intérprete e sistematizador das ideias de Marx, razão pela qual também se atribui a ele peso histórico pelo marxismo. Antes mesmo da morte do companheiro intelectual, Engels escreveu sínteses em termos populares das ideias de Marx, buscando facilitar sua difusão para a população em geral.

“Marx e Engels são, em minha opinião, autores incontornáveis. É impossível compreender o mundo de hoje sem conhecê-los”, diz Ivana Jinkings, diretora da Boitempo Editorial. “Embora considerado por muitos um autor de difícil compreensão, Karl Marx — que foi também jornalista — sabia escrever de forma clara, direta, tinha excelente humor e seus textos são cheios de graça, ironia, são muito agradáveis de ler”, complementa.

Obras acessíveis
A chave para não se intimidar é começar por obras mais acessíveis. Ivana indica o Manifesto Comunista, a Introdução à Crítica da Filosofia do Direito e o XVIII Brumário de Luís Bonaparte — livros com linguagem mais clara para o leitor que deseja ser iniciado no repertório teórico de esquerda. Já O Capital, apesar de ser considerado menos acessível se comparado com outras obras de Marx, continua sendo um livro fundamental para entender a visão de esquerda sobre o capitalismo.

“A obra é genial e permanece de uma atualidade impressionante. Temas como o exército industrial de reserva, por exemplo, que não para de crescer, parece ter sido escrito hoje. Assim como as formas de subordinação do trabalho ao mundo industrial, à máquina. A teoria do mais-valor também é absolutamente atual, assim como a acumulação primitiva”, destaca Ivana.

Mas é importante ler a obra com o olhar da atualidade, aproveitando o que ainda é relevante e questionando o que não cabe mais à realidade contemporânea. Ivana explica que muitos elementos do capitalismo do século XXI não estavam presentes quando O Capital foi escrito, no século XIX. “O capitalismo mudou muito e Marx não era vidente, mas as pistas que deixou são primorosas”, pontua.

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O médico e escritor argentino Ernesto Che Guevara foi peça-chave da Revolução Cubana. Foto: Reprodução

 

Líderes políticos
O rol de autores clássicos da esquerda inclui líderes políticos, como Vladimir Lênin, que conduziu a revolução bolchevique na Rússia, e o médico e escritor argentino Ernesto Che Guevara, cabeça da Revolução Cubana, junto com Fidel Castro e outros.

Em setembro de 1917, às vésperas da Revolução de Outubro liderada pelo partido Bolchevique na Rússia, Lênin publicou O Estado e a Revolução. No livro, apresenta sua perspectiva sobre a teoria marxista, estabelecendo diálogos com o anarquismo e a respeito dos “oportunistas”: os pensadores e partidos socialistas que interpretavam os escritos de Marx pelo viés de uma evolução gradual do capitalismo ao socialismo por meio do parlamentarismo — segundo eles, seria esse o meio legítimo para a luta do proletariado contra os capitalistas. Para Lênin, tal interpretação era uma distorção das palavras de Marx, uma vez que a única via possível para o socialismo seria a revolução.

Revolução também é o foco de A Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara. Lançado em 1960, logo após a Revolução Cubana, o livro é o resultado dos esforços de Che para sistematizar e teorizar a experiência do processo revolucionário cubano, que ocorreu por via guerrilheira. O livro deu origem ao “guevarismo”, movimento de foco guerrilheiro, e causa impacto até hoje nos movimentos da esquerda mundial. “Os textos teóricos de Che ainda hoje inspiram jovens em todos os continentes”, afirma Ivana.

Esquerda brasileira
Na tradição brasileira, os intelectuais de esquerda começam a ganhar espaço a partir das décadas de 1940 e 50, com discussões e críticas sociais ao desenvolvimentismo.

Um dos principais foi Nelson Werneck Sodré, que era general do Exército, reformado após o golpe militar de 1964. Como historiador, abordou diversos temas da realidade nacional, desde a História da Imprensa no Brasil (1966) até a História Militar do Brasil (1965), passando pela História da Literatura Brasileira (1995) e a Formação Histórica do Brasil (1963).

“Há toda uma gama de escritores de História, de economia, que tem um impacto na sociedade brasileira e até na América Latina, como o Hélio Jaguaribe, o próprio Fernando Henrique Cardoso e Florestan Fernandes. Tem o Clóvis Moura também, que foi o primeiro a fazer um debate sobre a questão do negro”, destaca Antônio Carlos Mazzeo, professor de História Econômica na Universidade de São Paulo (USP). “Eu diria que o Brasil é um dos países que melhor produz o marxismo moderno. Não são livros panfletários. São livros de grande profundidade, abordados por grandes autores marxistas brasileiros”, defende.

Tradição acadêmica
A esquerda tem ao seu lado a tradição acadêmica, principalmente nas universidades. “O aprofundamento da leitura dos materiais de esquerda se deve, em primeiro lugar, ao fato de que é esse tipo de material que as pessoas têm à disposição nas universidades e escolas”, aponta Rodrigo Jungmann, professor de Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A presença majoritária de autores de esquerda é atribuída a um ciclo da intelectualidade brasileira: houve um momento de forte tradição conservadora, com nomes como o do jurista e sociólogo Oliveira Vianna, que na década de 1930 inaugurou os estudos sobre a formação do povo brasileiro a partir de um viés sociológico. Depois é que vieram as discussões desenvolvimentistas e de problemas sociais, caso do político e antropólogo Darcy Ribeiro, cujos estudos contribuíram para a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

“Eu diria que temos, sim, uma tradição intelectual brasileira, inclusive conservadora”, ressalta Antônio Carlos Mazzeo.

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Roger Scruton, morto no início de 2020, é um dos principais nomes do conservadorismo. Foto: Reprodução

 

Queridinho da direita brasileira
Na tradição mundial, a ânsia por revolução, característica da esquerda, é substituída na direita por um olhar para o futuro que respeita leis fundamentais da natureza, maiores que a razão, o Homem e todos seus sistemas. A civilização moderna sofre de um mal-estar causado pela eliminação de um conjunto de rituais e de trabalhos que deveriam ser próprios do Homem. É o que defende o britânico Roger Scruton, um dos principais nomes do conservadorismo e um dos favoritos da direita brasileira, morto no início de 2020.

Scruton era defensor das leis tiradas dos hábitos espontâneos das comunidades e das liberdades individuais. Seu pensamento permanece influenciando a direita conservadora. Nos círculos brasileiros, é considerado “o Michel Foucault da direita”.

No país, o repertório de Scruton inclui as traduções de Como Ser um Conservador (2014), que apresenta teoria e prática do pensamento conservador nas várias dimensões da vida em sociedade, Tolos, Fraudes e Militantes (2015), que discorre sobre os pensadores da nova esquerda mundial, e Filosofia Verde (2011), um dos primeiros a incluir a ecologia no conservadorismo.

Alex Catharino, diretor editorial da LVM Editora, destaca que conhecer a história do Brasil também é uma obrigação para aqueles que se julgam conservadores, para que não se tornem meros adoradores de um tipo ideológico de conservadorismo, sem nenhuma conexão real com nossa tradição nacional.

“Uma visão abrangente da história nacional, discutida com elegância e ironia partindo de um ponto de vista conservador é apresentada por Bruno Garschagen em Pare de Acreditar no Governo: Por Que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado (2015). Vale, também, a leitura do clássico História do Liberalismo Brasileiro (2018), de Antonio Paim”, sugere.

Catharino também cita como principal conservador brasileiro do século XX o filósofo e historiador João Camilo de Oliveira Torres, autor de vasta obra, dentre as quais ele recomenda Interpretação da Realidade Brasileira, A Democracia Coroada e Os Construtores do Império — todos lançados pela Edições Câmara em 2017.

Valores fundamentais
Outra obra que merece ser citada é A Mentalidade Conservadora (1953), de Russell Kirk. No livro, o autor busca uma ordem transcendente que oriente a sociedade, que deve evoluir com cuidado para não perder o que conquistou ao longo da história. Além disso, ele defende que a liberdade e a propriedade privada estão essencialmente interligadas.

A noção de “valores fundamentais” também está presente em O Caminho da Servidão (1944), mas sob a ótica do liberalismo ou libertarianismo. No livro, o economista austríaco Friedrich Hayek define uma disputa entre dois valores fundamentais da direita e da esquerda: liberdade e segurança, respectivamente. O problema, segundo Hayek, é que ambos não podem conviver em um mesmo sistema político.

De qualquer forma, o professor Rodrigo Jungmann argumenta que a esquerda sai na frente na disputa por intelectuais brasileiros em formação, muito por conta de sua presença dominante nas universidades hoje. “Ninguém vai atrás de um assunto de que nunca ouviu falar. E a realidade é que no Brasil há muito mais exposição de autores, temáticas e perspectivas da esquerda do que da direita”, diz.

Isso não significa que todas as pessoas que passam pelas universidades brasileiras deverão desenvolver apenas pensamentos de esquerda. Uma evidência na direção oposta, inclusive, está ligada ao crescimento do mercado editorial de direita no país.

“O crescimento é intenso, mas ainda há muito por fazer. O Brasil é um país com forte histórico estatista e isso ainda está muito presente em nossa produção intelectual. Vai um tempo até equilibramos as forças, mas este é um caminho que considero irrefreável”, defende Dennys Garcia Xavier, professor associado de Filosofia Antiga, Política e Ética da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), autor e tradutor de livros sobre o tema.

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Russell Kirk é autor de A Mentalidade Conservadora (1953). Foto: Reprodução

 

Mercado
O Brasil não é um país que se destaca pela leitura. Estima-se que 56% da população lê livros. Em média, cada brasileiro lê 4,96 livros por ano, sendo que apenas 2,43 são lidos do começo ao fim. Os dados são da última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, realizada pelo Instituto Pró-Livro a cada quatro anos.

O cenário é ainda mais limitado para os livros científicos, técnicos e profissionais: o subsetor apresentou uma queda real acumulada de quase 45% no período 2014-2018, segundo dados da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).

Em contrapartida, as vendas de livros de política vêm crescendo no Brasil desde 2013, segundo dados de medição da Nielsen Bookscan realizada a pedido do Estadão. Em 2019, a média mensal de vendas do segmento foi de 30 mil exemplares. Em 2013, o número era de 10 mil. A explicação pode estar no cenário do país e nas mudanças de interesse da população sobre política.

Das manifestações de 2013, passando pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e chegando à eleição de Jair Bolsonaro em 2018, o brasileiro passou a assumir novos interesses políticos. As redes sociais recebem grande parte do crédito a essa mudança, graças a grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Revoltados Online, mas sozinhas elas não comportam o tamanho do movimento — e é aqui que entra o mercado editorial.

“Temos experimentado uma forte ascensão no interesse relativo às teses conservadoras, liberais e libertárias. Com isso, surge uma curiosidade natural sobre questões filosóficas, políticas e de uma visão de mundo que, para muitos, é uma absoluta novidade”, diz Xavier.

Alex Catharino lembra que uma das preocupações das editoras atualmente são os formatos das obras. Hoje, os livros são muito mais do que objetos materiais. É importante que os selos ofereçam as publicações também nos formatos digital (e-books) e até em áudio.

“O público conservador tende a consumir mais livros atualmente, não apenas de direita, mas de outros seguimentos, na busca de melhor compreender a realidade para refutar seus adversários. Não basta cativar apenas o público existente, sendo necessário ampliar cada vez mais a base de leitores. Ter obras, por exemplo, em áudio ajuda muito nessa tarefa”, conta o diretor editorial da LVM Editora.

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Olavo de Carvalho é autor do maior sucesso editorial do país. Foto: Reprodução

 

Nova direita
No caso brasileiro, a produção editorial da direita é catapultada pelo crescimento de nomes como Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino (autor de Esquerda Caviar, expressão que passou a denominar um subgrupo específico da esquerda brasileira) e Luiz Felipe Pondé (autor de A Década Perdida, sobre o legado dos governos petistas), bem como instituições liberais como o Instituto Millenium e o Instituto Ludwig von Mises Brasil.

Mas o maior sucesso no país é O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota, lançado em 2013 pela Record, do filósofo Olavo de Carvalho. A publicação é fenômeno de vendas: quase 150 mil exemplares comercializados em menos de dois anos. As vendas quadruplicaram nos meses que sucederam a eleição de Jair Bolsonaro, segundo a editora.

A notoriedade do filósofo se expande também para a educação: Olavo é professor de um seminário online de filosofia, onde abre para liberais e conservadores um espaço que lhes era negado desde os anos 1980 pelo menos, segundo ele.

De qualquer forma, o escritor inaugurou uma geração de pensadores e disseminadores de ideias de direita no Brasil. “Muito antes da atual geração existir ele já fazia um contraponto importante ao discurso monopolista da esquerda, especialmente nas universidades”, explica Dennys Garcia Xavier.

A convergência entre figuras públicas (principalmente nas redes sociais) e sua produção editorial contribui para aumentar o escopo de conteúdos para os leitores de política. Para o público, conteúdo online e livros técnicos são complementares: enquanto o primeiro introduz temas e levanta debates em ritmo acelerado, o segundo traz uma pausa necessária para amadurecer as reflexões. “É aí que entra forte o mercado editorial pensado para este nicho. Temos hoje editoras especificamente criadas para atender a essa crescente demanda”, destaca Xavier.

Uma delas é a já citada LVM, que criou um clube de livros por assinatura, apenas com obras sobre o pensamento político de direita. Diretor editorial do selo, Alex Catharino relata que o público consumidor da editora é variado, composto por professores, estudantes, empreendedores, profissionais liberais e políticos. A maioria, segundo Catharino, é jovem.

“Meu trabalho é apresentar coisas novas aos leitores. Fornecemos, por um lado, diversos livros de autores consagrados, ao mesmo tempo em que damos espaço para nomes desconhecidos”, conta. “Não se deve apenas neste nicho, mas em qualquer outro, subestimar a inteligência dos consumidores. Vejo que tanto alguns colegas quanto a mídia tendem algumas vezes a ter uma perigosa arrogância em relação à capacidade dos leitores”, opina o editor.

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Angela Davis integrou a organização dos Panteras Negras e é autora de Mulheres, Raça e Classe (1981). Foto: Reprodução

 

POR ONDE COMEÇAR

Para aqueles que querem começar a se aventurar pelo universo dos livros sobre política, a dica é escolher um tema de interesse, como o feminismo e suas ondas, marxismo ou livre mercado. A partir daí, é importante buscar indicações de professores, livreiros, críticos e especialistas no tema, tendo em mente que o ideal é partir de obras mais introdutórias para se iniciar nas leituras teóricas. Há, inclusive, publicações que “dissecam” obras clássicas, facilitando, assim, o entendimento.

“O catálogo da Boitempo oferece livros introdutórios excelentes, como o Marx, Manual de Instruções, de Daniel Bensaid com ilustrações de Charb [cartunista morto no massacre do Charlie Hebdo, em 2015]; A História da Escravidão, de Olivier Pétré-Grenouilleau; Ideologia: Uma Introdução, de Terry Eagleton; Feminismo Para os 99%, de Cinzia Arruzza, Nancy Fraser e Tithi Bhattacharya, que é curto e bastante acessível; além de obras da histórica militante feminista estadunidense Angela Davis, que abordam de forma acessível a interseccionalidade de questões relacionadas à raça, gênero e classe”, indica Ivana Jinkings.

A diretora da Boitempo indica também Para Além do Capital, do filósofo húngaro István Mészáros; O Marxismo Ocidental, do italiano Domenico Losurdo, e Mulheres, Raça e Classe, da já citada filósofa e ativista norte-americana Angela Davis, que integrou a organização revolucionária dos Panteras Negras. “Temos que citar também uma nova e aguerrida geração de jovens intelectuais, militantes, que influenciam centenas de milhares de outros jovens nas redes sociais: Jones Manoel, Rita von Hunty e Sabrina Fernandes são alguns exemplos”, acrescenta.

Há opções também para as crianças. São publicações que ensinam conceitos fundamentais das ciências sociais de forma leve e acessível. O selo infantojuvenil Boitatátem livros como As Mulheres e os Homens, A Democracia Pode Ser Assim, A Ditadura é Assim e O Que São Classes Sociais, todos de autoria da Equipo Plantel. “É uma excelente e lúdica introdução a temas fundamentais”, destaca Ivana.

Quanto aos temas mais alinhados à direita, Olavo de Carvalho continua sendo um dos nomes de destaque para uma introdução a obras mais técnicas. A influência do filósofo brasileiro merece destaque principalmente por apresentar as ideias políticas de direita para novas gerações.

“Estive num ciclo de palestras pelo Nordeste no ano passado e fiquei impressionado com a quantidade de adolescentes que leram Olavo. Acho isso fantástico. Ali, abre-se uma porta para outros autores importantíssimos na luta pelas liberdades individuais, contrários às pautas coletivistas”, conta Dennys Garcia Xavier.

Segundo Xavier, há alguns autores que apresentam as grandes discussões sobre conservadorismo, liberalismo e libertarianismo de modo emblemático por sua capacidade de comunicar as ideias de forma clara e compreensível. Alguns deles são Ayn Rand, Thomas Sowell, Ludwig von Mises, Hans Hoppe, Milton Friedman, Fréderic Bastiat, F.A. Hayek, Roger Scruton e Edmund Burke.

“Venham por Olavo, por Rand ou por Mises, pouco importa. Mas que se tornem permeáveis a novas ideias, as mesmas ideias que fizeram dos países mais prósperos do mundo o que eles são”, afirma.

Já o conservador Alex Catharino complementa que as verdades normativas podem ser aprendidas por meio da leitura de fábulas, contos de fadas, grandes romances e até de sagas como O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, Harry Potter, de J. K. Rowling, e Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. Até mesmo as tirinhas Peanuts, do cartunista Charles Schultz, famosas pelo personagem Snoopy, dão conta de exemplificar complexas questões filosóficas, segundo Catharino.

“Temos que aprender a falar com o homem comum e, acima disso, saber ouvir estas pessoas. Em diversas entrevistas costumo ressaltar, usando duas personagens de Monteiro Lobato, que precisamos de menos Viscondes de Sabugosa e de mais tios Barnabé”, finaliza.

 

MURILO BASSO é jornalista, com passagens pela Gazeta do Povo, Rolling Stone e Editora Abril.