Poemas | Marcelo De Angelis
Capitolina das araucárias,
oblíqua e dissimulada,
não sei que fluído misterioso
percorre esta aldeia.
Na espera por um Bentinho,
que não veio,
Nelsinhos não faltaram.
Rambô!
não se fazem mais poetas
como antigamente, li por aí
não contasse eu tantos invernos
te proporia amor e amizade
faria temporada no inferno
— a walk on the wild side
nossos versos entre putas,
travestis, michês e lambisgoias
nas costas
cada um com sua cruz machado
depois, sairia de cena
os dias entre noias
nos fundos da catedral
até amputarem o poema
Foto MDA
Canto da Chuva
chovia
já não chove mais
brilha agora o sol
sobre as calçadas lavadas
das copas das árvores
sobe a cantoria dos pardais
só nós guardamos silêncio
o silêncio escuro de quem vive
como mortos
enterrados
nos próprios quintais
Ai de ti, Curitiba!
ai de ti, Curitiba,
já vi tuas abominações
teus rinchos abafados
a dureza de teu coração
e a enorme idade
de tua prostituição
para cá assomaram
pássaros e ritos
amalgamaram-se
raças, lendas,
farsas e crenças
ai de ti, Curitiba
cidade furtiva
desvela teu rosto
ornado de soberba e lambrequins
teu rosado pedigree
nem as calçadas de petit pavê
suportam mais
ai de ti, Curitiba
cidade esquiva
sem compaixão
agrides o que não te agrada
acaso deve o etíope
mudar sua pele
ou o leopardo suas manchas
para que aceites a ti mesma?
Haiti, Curitiba
Haiti, Curitiba
Haiti, Curitiba
Marcelo De Angelis nasceu em Porto Alegre (RS) e vive em Curitiba (PR) desde 2007. É editor da Revista Gilda, de poesia e literatura, e é autor de Inventário de rumores e quimeras (poemas, 2016). Os textos publicados pelo Cândido integram o mais recente livro do escritor, Cidades de Curitiba (Kotter Editorial), que será lançado no primeiro semestre deste ano.