Poema | Xico Chaves
CHUVA
......
.....
....
...
..
.
livre
como
a
água
cai
cho
eira
eira
ei
ra
e
i
r
a
pingo
gota
que
vai
lá
vai
no
azul
do
vento
se
juntar
a
mais
uma
e
muito
mais
lá
vai
formar
o
barco
vela
aberta
tempo
oral
raios
vozes
trovões
luzes
fogos
pingos
de
luz
no
olho
do
furacão
pra
onde
vai
a
chuva
que
arma
o
tempo
oral
?
(interrogação
cabo
de
guarda
chuva)
pingo
reluzente
asteroide
transparente
parte
da
arte
porta
estandarte
da
via
láctea
cante
conte
onde
cai
como
o
pingo
de
água
livre
prisma
que
vai
e
vem
no
ar
pingo
ponto
ponto
pingo
nos
is
vira
chuva
grossa
pingo
sobre
pingo
vai
e
vem
traço
ponto
pingo
traço
pingo
pingo
traço
ponto
cai
como
ele
mesmo
diante
dele
e
pronto
ser
vento
eva
por
arte
nem
como
lago
nem
como
mar
chova
relampeje
trovoe
maremoteie
raie
faísque
pingos
de
fogo
na
faísca
da
solda
elétrica
óculos
vermelhos
solda
solda
pinga
fogo
espirra
raio
no
azul
cobalto
chuva
trovão
relâmpago
e
pingo
d?água
salva
mar
n’água
salve
manágua!
terra
de
pau
d’água
água
água
que
venha
mais
água
a
aqu
aquar
aquário
rio
aqua
aura
arco
iris
de
noite
nuvens
que
passam
plumas
líquidas
aquarelas
chovem
no
deserto
o
oasis
a
miragem
chapéu
de
água
chapéu
de
gelo
chapéu
de
vento
chapéu
de chuva
que
voa
ao
vento
vem
a
chuva
chove
chove
chove
chove
chuva
de
vento
chove
gente
chove
canivetes
chove
um
cisco
ao
vento
o
olho
da
serpente
o
olho
do
vidente
chove
sòmente
chove
lágrima
chove
amor
chove
verso
chove
guarda
chuva
chove
palavra
brilha
o
sol
na
gota
da
chuva
no
ar
sol
e
chuva
no
olho
do
céu
or
va
lho
ponto
de
luz
vento
leva
nuvem
leva
papel
nuvem
escura
nuvem
clara
cara
de
dragão
muda
vira
gente
muda
vira
cara
de
leão
cada
gota
cada
uma
uma
vida
cada
ponto
um
mundo
chove
chove
mesmo
chove
sem
parar
chove
tudo
sem
chorar
(rio,1973).
Xico Chaves é letrista, poeta e artista plástico. Tem mais de 200 músicas gravadas por vários artistas da MPB, entre os quais Nara Leão, Jards Macalé, Caetano Veloso, Vinícius Cantuária, Roberto Menescal e Elba Ramalho. Chaves participou da Geração Mimeógrafo. Entre seus livros, destacam-se Pássaro verde (1967), Pipa (1976), Purpurina (1977), Urucumfumaça (1979) e Poeta clandestino (1986). Vive no Rio de Janeiro (RJ).