Poema | Glauco Flores de Sá Brito

Balada de Belsen

Mais forte que a voz dos vivos
BrunaFerracz

e a voz dos soldados mortos
Na grande libertação
O clamor dos mortos, mortos
Nos campos de concentração
Incinerados nos fornos
Cadáveres contorcidos
Numa alucinação.
Os mártires da vitória
Que exigem reivindicação
Não podem ser esquecidos
Não, por muita geração
Fantasmagóricas sementes
De toda a libertação.

Oh, tu, das mãos decepadas
Oh, tu, sexo rasgado
Oh, tu, crânio esfacelado
Nas câmaras de “purificação”
Menino enterrado vivo,
Não esqueceremos, não!
Oh, ressequidas sementes
Semeadas nos fundos valos

Dos campos de concentração
Sóis as raízes fecundas
Da grande libertação.

Onde existir um tirano
Houver uma inquisição
Vossa lembrança na mente
Dos que viram nossos corpos
Convulsos, contorcionados
No estático ballet
A mente que vos lembrar
Derrubará o tirano
É a sua inquisição.
Membros desarticulados,
E rostos intumescidos
A imensa podridão
A que fostes reduzidos
Será bandeira, uma flâmula
Guiando à libertação.

Vós dolorosa semente
Do trigo da liberdade.
Que a todos dará o pão.

Glauco Flores de Sá Brito nasceu na cidade gaúcha de Montenegro, mas se mudou para Curitiba em 1937, aos 18 anos, onde se destacou na atividade teatral, tendo sido, com Ary Fontoura, fundador do Teatro  Experimental do Guaíra. Começou a publicar poemas nos anos 1940 e é autor de O marinheiro (1947) e O cancioneiro de amigo (1960).

Ilustração: Bruna Ferracz