Apresentação Helena 9

Questão de persistência

Há quem diga que “cultura é resistência” — e o mote realmente cai bem nestes tempos de discursos inflamados. Mas, para evitar gritos de guerra, e a julgar por alguns exemplos mostra dos nesta edição, também podemos dizer que cultura é persistência, insistência. Vide a trajetória do carioca Rogério Skylab, que esperou mais de 20 anos para ser encarado como artista “sério”. Ou do crítico e escritor José Ramos Tinhorão, cuja fama de tendencioso e radical encobriu durante décadas um dos trabalhos mais importantes do gênero no país (hoje finalmente reconhecido pelo meio intelectual). Por essas e outras, uma das propostas da Helena é jogar luz no que está fora do hype, recuperar tesouros esquecidos e, acima de tudo, fazer da margem o centro — nem que seja só por algumas páginas. É o caso do resgate do romance experimental Avalovara, de Osman Lins, lançado há 45 anos e raramente discutido hoje em dia. E do texto sobre os 20 anos da morte do artista visual Poty Lazzarotto, efeméride pouco lembrada mesmo em sua cidade natal, Curitiba. Isso não resulta, no entanto, em uma revista “marginal”. Pelo contrário: acreditamos que as coisas não precisam ser excludentes, e também voltamos nossa atenção para o que está, sempre esteve ou estará sob os holofotes. Como a reflexão sobre as novas formas de produção e consumo cultural promovidas pelos meios digitais. Ou a reportagem que investiga os bastidores do coletivo Selvática, revelação do teatro paranaense e nacional — cujo mantra é, vejam só, insistir, persistir, resistir (termos que, por coincidência ou não, aparecem várias outras vezes ao longo desta edição).

Boa leitura.