Poesia

Uma brisa me garça


Manoel de Barros

Ilustração


A gente foi criado no ermo igual ser pedra.
Para nós, melhor que lidar com ideias, era

fazer parte do chão, do rio, das árvores, das
rãs e das garças.
A gente queria pegar na raiz das palavras.
Eu bem quizera conhecer o formato do

silêncio.
Nossa vida era como um rio ensopado de
sol.
As palavras não tinham comportamento.
Bernardo modificava a natureza e com
as suas artes:
hoje ele fez um prego torto
para pregar água na parede.
Isso era liberdade?
No olhar do menino havia um arrebol!
Ele queria falar com sotaque de Fonte.






Ilustração: Rogério Coelho