Revelar e consagrar

Ganhar um dos 200 concursos literários espalhados pelo Brasil pode significar o empurrão que faltava na carreira de veteranos e estreantes

Lucas Rufino

luisa

A chamada vida literária, que na última década possibilitou aos escritores brasileiros viver dos derivados da literatura — feiras, bate-papos e oficinas —, também revigorou outro importante pilar da cena: as premiações.

Criados para revelar novos autores ou consagrar veteranos, os concursos literários se proliferaram no país. Segundo o site “Concursos literários”, em 2012 foram ofertados mais de 200 prêmios por todo o Brasil e em países de língua portuguesa.

Do Prêmio Uberaba de Literatura, que oferece aos vencedores um diploma e três livros, ao polpudo Prêmio São Paulo, que engorda em R$ 200 mil a conta do vencedor, os concursos — mais do que as benesses financeiras — são vistos por autores iniciantes e veteranos como uma boa oportunidade de divulgação de seus trabalhos. Ainda que não possam garantir a continuidade de carreiras, os concursos são uma forma de receber o aval de gente que compõe a cena literária. Vencer prêmios também não significa ser publicado, porém desperta a curiosidade das editoras.

Luisa Geisler ganhou duas vezes
o Prêmio SESC de literatura e foi s
elecionada para figurar na revista Granta,
que reuniu os melhores jovens escritores brasileiros

Luisa Geisler ganhadora do Prêmio SESC de Literatura duas vezes — a primeira em 2010, com a coletânea de histórias curtas Contos de mentira; a segunda neste ano, com o romance Quiça —, acredita que os prêmios tenham uma função de validar as obras inscritas, não os autores. “Mesmo assim, nem sempre isso acontece. Há muitos autores que ganharam o Jabuti e acabaram esquecidos. Ajuda, mas não basta apenas isso. Um iniciante que ganha o Jabuti não está nem perto de ser um escritor talentoso. A gente vive no curto prazo, mas só o longo prazo dirá quem vai vingar”, afirma a autora gaúcha de apenas 21 anos. No caso de Luisa, os concursos ajudaram a alavancar seu nome no cenário nacional. Ela foi um dos 20 autores selecionados para compor a coletânea da revista inglesa Granta — Os melhores jovens escritores brasileiros.

Para o jornalista e escritor Carlos Herculano Lopes, ganhar um prêmio é importante tanto para um autor novato como para um escritor renomado. “Dá prestígio, faz bem para o ego do ganhador, o nome dele circula, dá um dinheirinho e, com certeza, pode ajudar muito no caso da publicação do livro, caso o autor ainda não tenha editora”, diz Lopes, finalista do Jabuti em duas ocasiões, com os romances A dança dos cabelos e O vestido. “Pude perceber a repercussão positiva que dá”, completa.

Veredas e polêmicas

A história dos prêmios literários no Brasil mostra que, em muitos casos, a honraria alavancou carreiras que, mais tarde, se confirmariam consistentes. Grande nome da literatura brasileira, Raduan Nassar ganhou o Prêmio Jabuti de autor revelação em 1976 com Lavoura arcaica, romance que hoje, 35 anos depois do seu lançamento, já figura entre os clássicos contemporâneos. Em 1981, foi a vez de João Gilberto Noll receber o mesmo prêmio, por O cego e a dançarina. Noll, anos depois, venceria outras quatro vezes o concurso, e Raduan levaria novamente a honraria por Menina caminha, seu único livro de contos.

herculano

Criado em 1959 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Jabuti tinha somente sete categoriais em sua primeira edição. Entre os primeiros premiados, Jorge Amado foi o vencedor na categoria romance com Gabriela, cravo e canela. Atualmente, o prêmio conta com 29 categorias, das mais tradicionais, como romance, conto e poesia, até prêmios não muito convencionais, como ilustrações, turismo, hotelaria e gastronomia.


Carlos Herculano Lopes acredita que os prêmios
ajudam na circulação de obras dos vencedores.


Há três anos, no entanto, o concurso tem sua premiação envolvida em polêmicas. Em 2010, o segundo colocado na categoria romance, Leite derramado, de Chico Buarque, foi o vencedor da categoria Livro de Ficção do Ano, derrotando o primeiro colocado em romance, Se eu fechar os olhos agora, de Edney Silvestre. No ano seguinte, alguns livros finalistas foram desclassificados porque estavam em desacordo com o regulamento. Neste ano, outra polêmica envolveu o escritor paranaense Oscar Nakasato, inscrito com o romance Nihonjin. Um dos jurados, identificado como “C”, deu, na segunda fase do prêmio, notas zero a livros que ele mesmo tinha avaliado bem na fase inicial, caso de Mano, a noite está velha, de Wilson Bueno, e Infâmia, de Ana Maria Machado. Tudo para aumentar as chances de Nihonjin, que acabou vencendo a categoria.

Telecom e Paraná

Outros prêmios mais jovens que o Jabuti têm ganhado prestígio e já entraram no calendário literário brasileiro. O Prêmio Portugal Telecom, que anunciou seus vencedores no final de novembro, foi criado em 2003 e é dividido em três categorias: conto/crônica, poesia e romance. O vencedor de cada categoria recebe um prêmio no valor de R$ 50 mil e disputa o Grande Prêmio Portugal Telecom — o ganhador recebe mais R$ 50 mil, totalizando R$100 mil para a obra escolhida.

Durante as décadas de 1960 e 1970, o Concurso Nacional de Contos do Paraná foi um dos mais importantes prêmios do país. Em sua primeira edição, em 1968, consagrou a literatura idiossincrática de Dalton Trevisan. Outros nomes reconhecidos, como Luiz Vilela e João Antonio, também figuraram entre os vencedores do prêmio. Com o passar do tempo, o concurso foi perdendo a sua relevância. Neste ano, com o intuito de recolocar o Paraná na rota dos grandes prêmios, o certame foi reformulado e rebatizado como Prêmio Paraná de Literatura. Os vencedores das três categorias (poesia, romance e conto) receberam R$40 mil cada um e tiveram sua obra publicada com uma tiragem de mil exemplares.