Poesia | Mário Alex Rosa
Palavra menor
não tenho fé nenhuma.
Até tentei tê-la quando
por uma insignificância menor
que seu tamanho um poema deu as caras,
e achei que tinha a cara de Deus.
Era apenas um achado, mas achado assim
é tão raro quanto a minha fé.
Até tentei tê-la quando
por uma insignificância menor
que seu tamanho um poema deu as caras,
e achei que tinha a cara de Deus.
Era apenas um achado, mas achado assim
é tão raro quanto a minha fé.
Tinha sentido
Era preciso alguma razãoquando naquela noite você
apenas contou algumas estrelas,
passou de uma caneta para um lápis
e escreveu: “elas não são suficientes
Para guardar o amor”.
As palavras já não tinham mais forças,
era apenas uma forma de relembrar
o verão quando caminhamos próximos ao mar,
atravessamos toda a tarde, todas as pedras,
para ouvir agora que aquele doce marulho
tinha sentido.
Outro segredo
Tornar a palavra
segredo de algum lugar
não é uma má ideia.
Deixá-la em má companhia
não invalida a mentira
aqui devolvida.
Mas amar o perdido
foi uma solução
um tanto desenvolvida.
segredo de algum lugar
não é uma má ideia.
Deixá-la em má companhia
não invalida a mentira
aqui devolvida.
Mas amar o perdido
foi uma solução
um tanto desenvolvida.
31 de Dezembro
Era para ser o último dia,daqueles que a meteorologia
avisa que o dia será estável.
Talvez algumas nuvens esparsas
podem cobrir algumas horas
do seu dia. Talvez.
Nada ainda é certo, muito menos
a fenda que separa a manhã da tarde
quando um vento frio já tinha soprado
todos os intervalos do amor.
Consulta
A anestesia durou pouco,
a veia não está boa. Bate aqui.
Mais forte. Os olhos confundem
o perto e o distante. Deve ser miopia.
Não, doutor, a vista sempre foi boa,
mas de uns tempos pra cá deu pra reclamar
que tudo que chega perto do coração, é selvagem.
a veia não está boa. Bate aqui.
Mais forte. Os olhos confundem
o perto e o distante. Deve ser miopia.
Não, doutor, a vista sempre foi boa,
mas de uns tempos pra cá deu pra reclamar
que tudo que chega perto do coração, é selvagem.
De uma coleção
sempre utilizou as mãos para uso doméstico,como para cortar carnes, recortar papéis,
apontar lápis até a sua última lasca.
Ultimamente tem sacrificado sua coleção
de lápis de cor com o velho estilete, ainda preciso
para cortes finos.
Os velhos hábitos renderam muitos desastres,
um deles o fez enxergar que o começo
não tem fim, e pôs fim.
Mário Alex Rosa é autor do livro de poesia Ouro Preto e dos infantis ABC Futebol Clube e outros poemas e Formigas. Os poemas publicados pelo Cândido pertencem ao livro inédito SEM ASA. O autor vive em Belo Horizonte (MG).
Ilustração: Felipe Rodrigues