Poesia

POMAR


Adélia Prado
poesia


Os açúcares das frutas

me arrombaram um jardim

a meio caminho de trincar nos dentes

a doce areia, seus cristais de mel.

À vibração do que chamamos vida,

onde os adjetivos todos desintegram-se,

o Senhor da vida olhava-me

como olham os reis

as servas com quem se deitam.

Desde agora, pensei, basta dizer

“os açúcares das frutas”

e o jardim se abrirá

sob o mesmo poder da antífona sagrada:

“Ó portas, levantai vossos frontões!”



Adélia Prado nasceu em Divinópolis (MG), em 1936, onde reside até hoje. Já publicou vários livros, entre romances, contos, poemas e literatura infantojuvenil. Entre eles, Bagagem (Imago, 1976), O homem da mão seca (Siciliano, 1994), Quero minha mãe (Record, 2005) e o mais recente Carmela vai à escola (Record, 2011). Foi agraciada com o prêmio Jabuti por Coração disparado (Nova Fronteira, 1978).