Poemas | Geraldo Magela

Ilustração Marluce Reque 
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Urubuservando

Sou seu urubu rei
Ave de rapina em franca extinção
Atrás de banquete sempre irei
Do lixo luxo e as doenças evito a disseminação
Não trago augúrio e tampouco desgraça
Em terra santa ou beira de rio
Meu almoço é a sua nobre carcaça
Vivo em bandos a revoar
Sentinela urubuservadora da carniça
Minha asa se abre a frufrulejar
Em cima da tripa ou o podre da linguiça
Vivo sem rumo no rumor da morte
Nas garras levo seu fígado, o duodeno e o baço
Minha asa é um véu negro
Vivo da putrefação e do martírio
No meio ambiente eu sou íntegro
O gosto e o desgosto são meu delírio
Enfim o funeral e os olhos pressagos
Dum corpo vivo agora extinto
De ossadas em ossadas entre lagos
O fedor e a náusea é meu instinto.

Geraldo Magela é poeta, autor, entre outros, de Bendita boca maldita (1982). É o idealizador do CuTUCando a Inspiração, projeto mensal em que poetas e prosadores paranaenses se apresentam, por meio de performances, no palco no Teatro Universitário de Curitiba (TUC). Vive em Curitiba (PR).