Poemas | Charles Bukowski

playing it out

there are only two men I can really
relate to in this world and
one is on his deathbed
and the other, well, his wife
just ran away from him.
and I sit here typing
these things
drunk
as everybody else in the
neighborhood is
candido

asleep except for
two dogs
barking
at the sound of these
keys.
it’s strange, I think,
that the best I know are
in trouble
while the worst are
healthy, calm and
prosperous;
they are also exceptionally
dull
and consider themselves
my friends.
I keep typing these
drunk poems
sitting in this chair
smoking too many
cigarettes
and not understanding
anything
and finally
not wanting to.
just drinking and
cracking these keys to
make the dogs
bark
night into morning.

exaurindo

só há dois caras com quem eu consigo realmente
me relacionar nesse mundo e
um deles está no leito de morte
e o outro, bem, sua mulher
acabou de se mandar.
e eu aqui sentado digitando
essas coisas
bêbado
enquanto todo mundo na
vizinhança está
dormindo exceto por
dois cachorros
latindo
como o som dessas
teclas.
é estranho, penso,
que os melhores que conheço estão
na pior
enquanto os piores estão
saudáveis, calmos e
prósperos;
eles são também excepcionalmente
tolos
e se consideram
meus amigos.
fico digitando esses
poemas bêbados
sentado nessa cadeira
fumando cigarros
demais
e sem entender
nada
e finalmente
sem querer entender.
apenas bebendo e
martelando essas teclas para
fazer os cães
latirem
da noite à manhã.

2 p.m. beer
buk

nothing matters
but flopping on a mattress
with cheap dreams and a beer
as the leaves die and the horses die
and the landladies stare in the halls;
brisk the music of pulled shades,
a last man’s cave
in an eternity of swarm
and explosion;
nothing but the dripping sink,
the empty bottle,
euphoria,
youth fenced in,
stabbed and shaven,
taught words
propped up
to die

cerveja às 2 da tarde

nada importa
a não ser capotar num tapete
com sonhos baratos e uma cerveja
enquanto as folhas morrem e os cavalos morrem
e as senhorias nos encaram nos corredores;
vivaz é a música das persianas fechadas,
a última caverna de um homem
numa eternidade de enxame
e explosão;
nada senão a pia pingando,
a garrafa vazia,
euforia,
juventude cercada,
perfurada e barbeada,
palavras ensinadas,
preparada
para morrer.


Rafael Cavaglieri Ilustração


Charles Bukowski nasceu em Andernach, na Alemanha, em 1920, mas morou nos Estados Unidos desde os três anos de idade até sua morte, em 1994. Criou-se em meio à pobreza de Los Angeles, cidade onde residiu por 50 anos. Sua literatura é extremamente autobiográfica, com temas e personagens marginais. Ao longo de sua vida, publicou mais de 45 livros de poesia e prosa, como Mulheres (romance), Ao sul de lugar nenhum (contos), Burning in water, drowning in flame (poemas) e War all the time (poemas), de onde os textos aqui publicados foram retirados.

Fábio Soares traduziu quatro livros de Charles Bukowski, todos publicados pela Spectro Editora. É formado em Letras, com mestrado e doutorado em Literatura. Vive em Florianópolis (SC).