Poemas | Amanda Vaz

Everybody knows, she's a femme fatale

desde que entrei neste in-lugar, durmo como se fosse acordar
almoço como quem vai repetir e com os cigarros não tem sido diferente
vou entrar de novo, desalmoçar, fumar o último
sinto que vou perder todos os voos que saem de hora em hora
por falar nisso, internamente as borboletas crisálidas
dão à minha feição uma coloração de advertência aos predadores
(refiro-me a mim como aos insetos tóxicos e logicamente impalatáveis)
mas os rapazes daltônicos dizem que trago a primavera
quando atravesso a rua e de novo florescem rosas ao longo do vestido

Sou-te

o estar no corredor vazio
da casa cheia
e a porta entreaberta
entre nossos incômodos

o pouso suave
na tensão superficial
das águas de ninguém

o embrechar da trama
recém-encerrada
após o final feliz

o recheio de éter
nas frestas da areia
de passar o tempo

e as horas desabitadas
de quase duas décadas

o romance inacabado
que merece ser prosa
mas se quer poesia

o encaixe perfeito
em um não-espaço
de peito


AMANDA VAZ TEIXEIRA nasceu em 1990 e vive em Curitiba (PR). É autora do livro de poemas o pesado que voa (2018).