Poema | Marciano Lopes

Mirando Janis Joplin

É nesta cadeira, vejam,
BrunaFerracz

é nesta cadeira vazia
que ouço Janis Joplin
e converso com Bertold Brecht
sobre os absurdos do mundo.
É nesta cadeira, vejam,
que ouvimos Neruda cantar
e converso com o mais estranho
e eclíptico demente
que com meus olhos meninos eu vi!
Ele se delicia com rainhas,
balões, porcos e pedras rolantes,
Mirando Janis Joplin
grita berra! e sussurra baixinho...
que não tem certeza de nada
e que a ignorância também é sábia.
Fala de doidos amores,
das mulheres que comeu e cuspiu
nos podres vasos da aurora,
nos bares imundos em que deixou
o âmago quente do seu estômago
cansado da burra servidão do dia.
É nesta cadeira, vejam,
É nesta cadeira vazia
que ouço Janis Joplin.
Não, não assuste não!
São somente máscaras com que disfarçamos o medo,
o vazio o vácuo a velocidade
a voz que vem do nada por todos os lugares
jorrando como sangue do coração
fazendo esgares nos espelhos
espalhados pelo caminho.
É nesta cadeira, vejam,
é nesta cadeira vazia
que ouço Janis Joplin!

Marciano Lopes nasceu em Porto Alegre, em 1965. Foi professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Publicou os livros de poemas Torpor e A contrapelo.

Ilustração: Bruna Ferracz