Poema | Heitor Ferraz Melo
Precária unidade
Poemas morrem pela boca
como os peixes
Palavras afogadas de sentido
se sentem vazias
como sacos de supermercado
Não se diz amor
sem que um sorriso ácido
lamba as pernas do ar
e tudo faça pouco sentido
Enfrento minha alma
sua alma despedaçada
como nuvens que correm distantes
Finco meu desejo
entre o sonho
e a razão esboroada
Pulso minha língua na sua
e enrolados nesse drama particular
formamos uma efêmera forma de viver
— é nossa vida
que se rompe
numa precária unidade
Heitor Ferraz Mello é jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela USP. Publicou, entre outros livros, Resumo do dia (1996), A mesma noite (1997), Goethe nos olhos do lagarto (2001) e Meu semelhante (2016). Em 2010, seu livro Um a menos foi um dos semifinalistas do Prêmio São Paulo de Literatura.