Poema | Bruna Siena

Os fantasmas da cidade que ri


BrunaF
Arrumando as cidades
enquanto escuto aquele disco
que me lembra da sua retina grudada
nos vidros blindados do parapeito
e meu peito estourado
de fumaça dos carros
do cigarro
do incêndio aqui dentro
e queima tudo que é de gelo
não descongelo.
As cidades me desarrumam
e no quadro do corredor
você ri pra mim
engulo o choro
passo reto
não te olho pra não ser
obrigada a arrancar os meus olhos
e a cidade toda ri
o céu fechado
o sinal aberto
o café quente pra caralho
queimando os dedos calejados de punheta.
E tudo continua vazio
tudo geme
fecunda
rebola na minha cara
é lá na vida que eu descobri a coisa
a coisa que atira e não resgata
deixa o corpo apodrecer
no ventre da cidade que ri
no beco que estupra e não goza
o asfalto molhado refletindo
os fantasmas do alto
bebendo conhaque
voltando pra casa.

Bruna Siena nasceu em 1993 em Maringá (PR), onde vive. É autora do livro Dolores morreu, ainda inédito.

Bruna Ferrencz Ilustração