Poema | Andréia Carvalho Gavita

Equinócio


Pois agora ele viria, andrógino                                        
rebento. Então concentrava em
ponto de luz hermética toda palavra
fagulha. E talvez dissessem que                                                  
carregava a crescente sobre a
ossatura cambaleante e que os
cornos queimariam a estação com a
iluminação profana da neoteogonia.
Poderiam dizer que se tratava de
um sol satânico sobre os castos
meridianos, e que sua lucidez
faiscaria efígies obscenas sobre as
areias, incendiando casas santas.
Mas ela, prometeica na fogueira
da claridade, sustentaria o verbo
com a lenta combustão de uma
pluma migratória no acasalamento
do deserto. Pois agora ele
viria, cometa, enxame, sonar,
reproduzindo silêncio. E dela seria
a voz, por tantas eras eclipsada:
despe-te, nasci nua. Os celeiros
teriam a cornucópia. Ele teria a
brasa. Ela teria a cópula.


Andréia Carvalho Gavita nasceu em Ponta Grossa(PR). Estudou Ciências Biológicas e Produção Multimídia. Trabalha na área de farmácia hospitalar na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integra o corpo editorial das revistas de literatura Zunái e mallarmargens. Autora dos livros A cortesã do infinito transparente (2011), Camafeu escarlate (2012), Grimório de Gavita (2014) e papel leopHardo (2016). Vive em Curitiba (PR).