Na biblioteca de Marden Machado

Conexões Cinematográficas

Títulos sobre cinema, clássicos da literatura e histórias em quadrinhos formam a biblioteca “interdisciplinar” do crítico e jornalista Marden Machado


Helena Salvador
Fotos Kraw Penas
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Boa parte dos cerca de 2 mil livros da biblioteca do jornalista e crítico Marden Machado é sobre cinema e temas correlatos (técnicas de roteiro, biografias de artistas e atores, estudos filosóficos, clássicos que inspiraram filmes). Segundo ele, é a maior coleção do gênero em Curitiba — e só não ocupa mais espaço em seu apartamento do que o acervo de DVDs. É nesse QG que um dos cinéfilos mais conhecidos da cidade escreve e grava o material publicado no site cinemarden.com.br, cujo conteúdo já rendeu dois volumes de um guia cinematográfico. 

Nascido e criado no Piauí, Machado conta que seu interesse inicial foi pelas histórias em quadrinhos. Ainda não era alfabetizado e já prestava atenção na narrativa composta pelos desenhos. Os primeiros livros vieram pouco depois, presenteados por tios e professores. “Meu pai era um leitor de jornais e revistas, tinha perdido o hábito de ler livros. Comecei a ganhar versões infantis de clássicos, como O Conde de Monte Cristo e Dom Quixote, histórias fantásticas de Júlio Verne. Então ele teve que construir uma estrante para eu guardá-los”, lembra.

O gosto pelo cinema veio mais tarde — e por conta de uma necessidade dos pais, que nem sempre podiam ficar com os filhos em casa. “O cinema era a diversão mais barata que existia em Teresina. Como meus pais não podiam contratar ninguém para cuidar de mim e dos meus três irmãos, eles nos deixavam no cinema”, explica o jornalista. Nessa mesma época, ele adquiriu outro hábito que ainda mantém: o de rever filmes.

Os livros sobre cinema começaram a fazer volume em sua biblioteca nos anos 1980, quando Machado comprou seus primeiros títulos sobre a produção brasileira. As leituras rendiam mais indicações de filmes, e as conexões só foram aumentando. Mas a coleção foi se perdendo com as sucessivas mudanças de cidade (o jornalista trabalhou em redações de cidades do Nordeste e de São Paulo), até que ele finalmente se estabeleceu em Curitiba e começou tudo de novo. 

Atualmente, o crítico investe em obras raras e aproveita a isenção de impostos para importar títulos. Só sobre Blade runner, seu filme preferido, ele tem 12 livros. O que não descarta um interesse pela comodidade das plataformas digitais de leitura. “Ainda sou apegado ao físico. Mas tenho um Kindle, e não existe nada mais prático do que viajar com um desses”, afirma. 

Prestes a lançar Cinemarden vai aos tribunais: Um guia de filmes jurídicos e políticos, Machado acredita que a literatura e os quadrinhos o levaram a analisar o cinema de forma mais profunda. “Quando comecei a escrever, meu texto era informativo e se limitava a mostrar as curiosidades das produções cinematográficas. Foi a literatura interdisciplinar que me ensinou a escrever de forma mais abrangente em termos históricos”, diz.

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A experiência do cinema (1983), de Ismail Xavier 

“Esse livro é uma reunião de ensaios dos grandes estudiosos do cinema. Refletir sobre a arte cinematográfica faz parte do processo de entendimento das produções. Esse é o livro que recomendo para qualquer pessoa que está entrando no estudo cinematográfico.” 

A magia do cinema (2004), de Roger Ebert 

“Qualquer texto desse autor é muito bom, ele foi o único crítico de cinema a ganhar o Prêmio Pulitzer de jornalismo. A escrita sobre cinema pode ser estudada através dos textos de Ebert.” 

Hitchcock: Um diálogo com Truffaut (1966), de François Truffaut 

“Essa já é a segunda edição que eu tenho. É uma longa entrevista que Hitchcock deu para o seu maior fã, François Truffaut. A entrevista trata não apenas de toda a carreira de Alfred Hitchcock, mas também da arte de fazer cinema.

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O Homem do Castelo Alto (1962), de Phillip K. Dick

 “Dick parte da premissa de que os nazistas e os países do Eixo ganharam a Segunda Guerra, dividindo o mundo. Os Estados Unidos viram Estados Unidos do Leste, país dominado pelo Japão, e Estados Unidos do Oeste, de posse dos alemães. O livro começa descrevendo o mundo nesse cenário.” 

Terra Vermelha (2013), de Roger Ebert 

“Eu adoro esse livro. É sobre a colonização do Paraná. É a história pulsante de um casal do interior do estado de São Paulo que vem buscar a chance de uma nova vida em Londrina. Você acompanha esse casal por 60 anos, de 1929 até a década de 1980.” 

O Conde de Montecristo (1845), de Alexandre Dumas 

“A história do Conde de Monte Cristo me acompanhou por toda a vida. Para mim, é uma narrativa perfeita para o cinema, a história de uma vingança perfeitamente trabalhada.”

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