Na biblioteca de Key Imaguire

Arte, quadrinhos e clássicos

O acervo do arquiteto Key Imaguire, que hoje conta com mais de 10 mil títulos, é dominado pelas HQs, a grande paixão do idealizador da Gibiteca de Curitiba


Kaype Abreu

Fotos Kraw Penas
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A biblioteca de Key Imaguire ocupa todo o primeiro andar de um sobrado no bairro Mercês, em Curitiba. “Há 10 mil títulos, em português e em quatro outros idiomas que o arquiteto conhece: italiano, francês, espanhol e inglês. Tive um professor que dizia: ‘Se você quer estudar arquitetura, tem que ler pelo menos em cinco línguas.’” Além de aluno da graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Imaguire também foi professor do curso por 35 anos, o que exigiu constante estudo e pesquisa sobre o assunto. Por isso, grande parte do acervo é formado por obras sobre arquitetura.

Curitibano do bairro São Francisco, é o único personagem desta série do Cândido que afirma ter lido todo o acervo da própria biblioteca. Mas se justifica com modéstia: muitos são de consulta ou de leitura rápida. É o caso dos gibis e das graphic novels, que preenchem 40% das estantes. Romances gráficos como Persépolis (2000), da francesa Marjane Satrapi, e do clássico autor Will Eisner (1917-2005), um dos mais importantes quadrinistas do século XX, ocupam as prateleiras dedicadas a esse gênero.

 A outra parte do acervo reúne tomos sobre diversas paixões de Imaguire, como cinema, fotografia e história do Brasil. Muitos volumes estão emlíngua italiana. “Toda a história da arquitetura está referenciada lá.” Também há espaço para os clássicos, como Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (o primeiro livro que comprou, após ganhar um prêmio de melhor redação, no Colégio Estadual do Paraná).

Durante a adolescência, Imaguire se apaixonou pela crônica ao frequentar o extinto Clube Literário Dário Vellozo, na Biblioteca Pública do Paraná. Idealizada em 1956, a iniciativa promovia uma série de atividades culturais entre o público mais jovem. A partir de então, passou a ter contato com autores como Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e Sérgio Porto. “Isso foi marcante porque o cronista sempre faz referência. Sou de buscar as coisas que vejo citadas.

Já na faculdade, Imaguire começou a trabalhar no Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), onde conheceu Domingos Bongestabs — arquiteto responsável pelo projeto da Ópera de Arame. Bongestabs foi influência decisiva para Imaguire, que mais tarde idealizou a Gibiteca de Curitiba — espaço com mais de 25 mil títulos de histórias em quadrinhos e que promove oficinas de criação, exposições e palestras. “Ele, leitor de gibi muito antes de mim, começou a me orientar. Dizia, ‘procure em tal lugar que você vai achar Timtim ou Asterix’. Daí sim que a paixão ficou.”

Nova York — A vida na grande cidade (2009), de Will Eisner

“‘Nova York’ reúne vários livros de Will Eisner sobre a cidade. Conheci o autor no Canadá. Estávamos trabalhando juntos num juri. Falei qual era minha profissão e ele disse ser um arquiteto frustrado. ‘Pode pegar todos os meus trabalhos. A arquitetura sempre é um personagem importante’, ele falou. Se ele tivesse tido condições de estudar, teria sido arquiteto. Ainda bem que não foi.”

Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Marquéz
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“Cem anos de solidão é uma coisa fantástica. É daqueles livros que você pega e não consegue parar. Te fascina, vai te obrigando a continuar lendo. Um baita livro. Explora muito bem a linguagem poética e o fantástico. Li quando saiu, por causa de uma referência.”


Memórias de um jovem octogenário (2005), de Carlos Menezes

“É uma ficção que pega um tema interessante, o da história da Itália, romanceando bem. Não é uma fantasia delirante. Esse autor é muito cultuado na Itália. Considerado um dos grandes escritores de lá.”

Tirant lo Blanch (1490), de Joanot Martorell

Tirant lo Blanch [Tirante o branco] é um antecedente do Dom Quixote. A gente só teve acesso a ele há uns dez anos, quando traduziram para o português. E é primoroso.”

Habibi (2011), de Craig Thompson
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“Essa é uma das melhores coisas feitas ultimamente. O autor segue uma tendência contemporânea que é explorar o Oriente Médio”, afirma Key. Ambientado no mundo islâmico, Habibi conta a história de dois escravos fugitivos.


Coleção Monteiro Lobato

“O que eu mais gosto no Lobato é essa vertente que envolve mitologia grega e parte que explora fantasias antigas. Em 1982, comemorou-se os 100 anos do nascimento do autor. Então, a Brasiliense fez um volumão com todos os livros infantis dele.”

Storia della bellezza [História da beleza] (2004), de Umberto Eco

“Umberto Eco é um professor de semiótica — uma das ciências da modernidade. Quando ele trata da história da arte, por exemplo, apresenta uma perspectiva nova. Uma maneira moderna de pensar o tema. Esse é o fascínio dele.”

Jerusalem: Chronicles from the Holy City [Crônicas de Jerusalem] (2013), de Guy Delisle
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“A mulher do autor é médica da ONG Médicos Sem Fronteiras. Ela é convocada a trabalhar em lugares como Jerusalém e Birmânia e ele vai junto. Enquanto a esposa trabalha, Delisle fica passeando, desenhando e cuidando do filho. É extremamente interessante porque ele tem tempo de observar, de ir atrás de detalhezinhos.”