Livros novos, novamente

Dos 18 mil livros emprestados por mês nos balcões da Biblioteca Pública do Paraná, mais de 250 vão parar nas mãos de nove técnicos, que têm a missão de tornar os livros utilizáveis novamente

Guilherme Sobota


Entre um e outro empréstimo de livro, um trabalho incessante e silencioso é feito em uma ampla sala do subsolo da Biblioteca Pública do Paraná. Na Divisão de Preservação da BPP, nove pessoas têm a missão de dar sobrevida a uma média de 250 livros por mês, que chegam com os mais diversos danos. Os profissionais se dividem em três seções dentro da Divisão de Preservação: Reparo, Encadernação e Microfilmagem, além do Laboratório de Higienização.

“As obras que visivelmente precisam de recuperação são submetidas a uma avaliação, feita pelos chefes de cada divisão juntamente conosco”, explica a chefe da Divisão de Preservação, Bety de Luna. Essa é a fase inicial de um processo que geralmente tem cinco passos, a depender da primeira avaliação. “Cada livro tem uma necessidade específica, mas há um processo padrão.”

A primeira etapa é o desmonte. Os livros são desmontados, descolados e descosturados. Depois, são feitos remendos com materiais específicos, como celulose, nas páginas que apresentam falhas ou danos. A terceira etapa é a costura dos livros, ou colagem, quando se trata de brochuras. A costura, nos livros de cadernos, é feita manualmente, em um trabalho quase artesanal. Em seguida, é adicionada uma folha de guarda, um papel de maior gramatura que dará sustentação ao livro. A quinta fase é o que os técnicos chamam de reforço lombar: a lombada do livro, que sustenta as páginas, é reforçada com um tecido fino de algodão, chamado morim. “Essa fase é muito importante porque dá flexibilidade ao livro”, explica Bety. Se necessário, o livro ainda é encaminhado para a seção de Encadernação, que estrutura um suporte novo, e eventualmente uma capa nova.
restauração

Os livros que são pouco procurados e ficam por muito tempo guardados nas estantes são enviados ao Laboratório de Higienização. Ataques de pequenos insetos estão entre os problemas resolvidos pelos profissionais no Laboratório. Bety explica que nesses casos há uma desinfestação por meio de um processo chamado “atmosfera modificada”. Nesse procedimento, os livros são colocados num ambiente com a menor quantidade possível de oxigênio, e em seguida é adicionado gás nitrogênio, para eliminar por asfixia os insetos. Quando necessário, também é realizada higienização página por página dos livros. “Além disso, nós também providenciamos o acondicionamento de livros, principalmente os mais raros”, diz, referindo-se à fabricação de uma pequena caixa, feita sob medida, em que os livros são realocados, para melhor preservação.

Ainda que possa sugerir um mau uso dos livros, a demanda de trabalho da Divisão de Preservação é cumprida com satisfação pelos técnicos da BPP. “Se há danos, é sinal de que as pessoas frequentam a biblioteca e emprestam os livros”, afirma Bety. Segunda ela, a maior parte do trabalho de restauração se dá por causa do desgaste natural das edições. “Os casos de 'vandalismo' acontecem com uma frequência pequena”.

Há, ainda, a seção de Microfilmagem, responsável por digitalizar os jornais do Estado. “O acervo de microfilmes vai todo para Biblioteca Nacional.” Este acervo também está disponível para consulta na Divisão de Documentação Paranaense, no segundo andar da Biblioteca.

A BPP também oferece, como previsto num termo de cooperação técnica entre bibliotecas públicas, cursos de preparação para funcionários de bibliotecas que queiram ter noções básicas de recuperação de livros. “Quando há demanda, nós organizamos turmas e ministramos um curso básico de dois dias”, diz a chefe da Divisão de Preservação. Segundo ela, esses cursos são direcionados a profissionais de bibliotecas de escolas públicas e funcionários municipais e estaduais em geral.