Guilherme Gontijo Flores

Pensem na planta antropofágica


no cauim comercial
na planta que consome a pedra
consome a água

mais dura que a pedra
e reverte o verde da carne em muro
em pele estanque

no não lugar entre a carne
e novamente a pedra

x

repleta de um som silente de planta

Na racha fibrosa da língua

a querer domar
amansando na fala
o fundo maior do velho
mundo

vomitamos insinceros
a vida num caldo
cauim de cultura
incultos sabores gentios

mas antes de moldar-nos homens
tolos moldam anjos

 

A leveza da lâmina tupi

é o que se há de usar
quem ri goza o que não ri
desfez-se o eu polido a pedra
no mas muero porque no muero
mas rio porque não rio

Guilherme Gontijo Flores
nasceu em Brasília, em 1984. É graduado em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e mestre em estudos literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É tradutor e professor de Língua e Literatura Latina na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em 2013 publicou o livro de poemas Brasa enganosa. Vive em Curitiba.

Ilustração: Marciel Conrado