Fernando Koproski
Os melhores poetas
Os piores poetas morremem grandes salões ovais,
com roupa de gala e ao som
de impecáveis quartetos
de cordas. Os piores
poetas morrem laureados
por inúmeros prêmios da
academia, reconhecidos
pela crítica especializada
como dicções únicas da
literatura de sua língua
ou de seu país. Os piores
poetas quando morrem,
deixam seus bustos e
poemas esculpidos em
mármore no hall de entrada
das universidades.
Os melhores poetas quando
morrem, deixam apenas
seus poemas esculpidos em
sangue.
Os melhores poetas quando morrem,
deixam apenas
seus poemas esculpidos em sangue
no meio da rua,
no meio das nuvens,
no meio das árvores no fim de tarde
e no meio das páginas de tuas coxas,
poesia
sim, poesia,
os melhores poetas morrem
desvendando as palavras
em tuas pernas cruzadas
sim, primavera,
os melhores poetas morrem
com teus seios pequenos em suas mãos
enquanto seus dedos dizem
em sigilo em tua pele uma oração
sim, primavera,
os melhores poetas morrem
enquanto você cruza as pernas
e espera
pintando as unhas
com o sangue das gérberas
os melhores poetas quando morrem,
deixam apenas
seus poemas esculpidos em sangue
sim, primavera, porque
os melhores poetas quando dormem,
sonham com
seus poemas esculpidos em fogo
no meio da lua,
no meio das nuvens,
no meio das árvores no fim de tarde
e no meio das páginas
de tuas coxas
Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 1973. Publicou os livros de poemas Sapatos tortos (1998), Manual de ver nuvens (1999) e Tudo que não sei sobre o amor (2003). Como
tradutor, organizou e traduziu as antologias poéticas de Charles Bukowski Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (2005) e Amor é tudo que dissemos que não era (2012). Vive em São José dos Pinhais (PR).
Ilustração: Marciel Conrad