Especial | Feiras Literárias

A feira

“A mídia ainda dá pouco espaço paraos autores de literatura infantil e juvenil, excetuando-se aqueles que tiveram suas carreiras alavancadas p or grandes investimentos de suas editoras em marketing, o que demonstra a falta de crítica especializada nesta área”, aponta Marco Cena, coordenador-geral da Feira de Porto Alegre e presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro.

O curador da 60º Feira do Livro de Porto Alegre também gostaria que os jornalistas dessem mais atenção a novos talentos, que “precisam ser garimpados na Feira”, e atenção especial a autores internacionais que se apresentam pela primeira vez no Brasil. A feira detém o primeiro título de patrimônio imaterial da cidade de Porto Alegre e chega a 2014 à sexagésima edição com 127 expositores, cerca de 700 sessões de autógrafos distribuídos em duas semanas de atividades. Em 1955, começou com 14 barracas de madeira.

Dentro da programação da Feira é possível encontrar atividades como o “Tu Frankenstein”, em que escritores são convidados a realizem uma criação literária ambientada na Biblioteca Pública do Estado num 8 de novembro tal qual, na noite de 1816, Mary Shelley desenrola sua ficção de terror gótico Frankenstein. A programação cultural lança mão também de teatro, música, poesia e outros formatos tendo “a palavra como protagonista”, sintetiza Cena. E desde o ano passado, questões relativas à economia do livro têm procurado abrir o debate sobre a profissionalização na edição e na comercialização de livros.

A Jornada

“Feira do livro e bienal do livro não são prova de atletismo, de corrida de bastão, onde a gurizada corre de um lugar para o outro sem ter como objetivo primeiro ter lido um livro e encontrar um autor face a face. Para dinamizar os livros, é preciso preparar uma programação para os leitores encontrarem autores. E é a partir daí que continua o diálogo: primeiramente, do leitor com o livro e, depois, entre o do leitor e o escritor. Com o tempo é que virá o gosto pela leitura dos clássicos”, diz Tânia Rösing, idealizadora e coordenadora-geral da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Doutora em Teoria Literária, Tânia considera que as feiras, em geral, procuram divulgar e vender obras, mas fracassam em dinamizar a leitura, tanto para leitores iniciantes quanto para os que estão em fase de formação. Lamenta que sejam comuns feiras privilegiarem livros infantis apenas por seu baixo preço e não pela qualidade do texto. Ou seja, incentiva uma comercialização apenas para fins consumistas e não culturais. A Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo é conhecida por sua capacidade em promover a movimentação cultural. O evento bianual foi criado em 1981. Para comprovar que acesso ao livro não significa leitura, a curadora da Jornada menciona uma cena que assiste com frequência quando visita escolas — encontrar caixas fechadas de livros comprados via programas governamentais, como o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). — Ela diz ainda que de nada vale investir em acervos se não houver formação dos professores tanto como leitores e como mediadores da leitura.


O circuito

cult

"Tenho notado a revalorização do escritor mais tímido, que não é um show man e oferece ‘apenas’ a qualidade do seu texto. Os últimos vencedores do Prêmio Sesc de Literatura, por exemplo, são sujeitos tímidos, quietos e talentosos pacas, e estão chamando muito a atenção por onde passam. Acho que a grande descoberta está nos autores introspectivos, cuja figura contrasta com a voz poderosa de suas narrativas”, diz Henrique Rodrigues Pinto, assessor técnico em Literatura do Sesc Nacional e coordenador de projetos de incentivo à leitura e circulação de manifestações literárias.

A partir da experiência em mais de 70 semanas literárias, Henrique sustenta sua hipótese nos exemplos do maringaense Marcos Peres (O evangelho segundo Hitler), do santista Alexandre Marques Rodrigues (Parafilias) e da pernambucana Débora Ferraz, (Enquanto Deus não está olhando). Como o SESC possui unidades espalhadas pelo país, suas ações permitem avaliar que, realmente, houve uma popularização das feiras literárias municipais. Foram elas que levaram o SESC a se aproximar do conceito de jornada literária. 

O setor de cultura do SESC Nacional identifica um aumento considerável do interesse de jovens pela leitura e, em se tratando de formato, uma demanda por oficinas literárias. Se antes o problema era encontrar o livro, agora o público quer se aproximar de escritores e trocar ideias. A combinação de autores de centros maiores com os de outras regiões também tem sido uma fórmula de troca cultural bastante estimulante para os envolvidos. Henrique, ao responder a entrevista, estava em Vitória, onde, assevera, “existe uma vida literária rica e pulsante, com autores, infelizmente, pouco conhecidos nos Estados vizinhos”.