Especial | Feiras Literárias

A madrinha das feiras


Para a inglesa Liz Calder, idealizadora da FLIP e da FLIPSIDE, um bom curador deve estar ciente das novas escritas e publicações ao redor do mundo


Ben-Hur Demeneck

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Fliro (RO), Flivima (RJ), Flibo (PE), Flimar (AL), Flipoços, Fliaraxá (MG), Fliporto (PE), Fliparanapiacaba (SP), Flicampos (PR), FLAP (AP), Flimt (Feira do Livro Indígena de Mato Grosso). Sim, o prefixo “Fli” é um dos legados da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) e um dos sinais de sua influência em seus pouco mais de 10 anos de existência.

 A inglesa Liz Calder, idealizadora da FLIP, considera que um curador de feira literária deve investir na criação de um programa que aborde questões atuais e escolher autores que trarão consigo histórias e experiências que vão expandir a compreensão do público, ao mesmo tempo que o entretenha e o inspire. Um dos desafios está em selecionar escritores que consigam combinar bem entre si tanto no desenvolvimento de ideias quanto em compartilharem uma experiências de diálogo juntos.

A FLIP começou numa viagem à cidadezinha de Hay-on-Wye, no País de Gales, em 1997. Liz Calder havia morado por décadas no Brasil e nessa nova fase editava livros de autores brasileiros pela Bloomsbury. Ao chegar ao Hay Festival, ela estava acompanhada de um grupo de amigos influentes nas letras brasileiras, entre eles o editor Luiz Schwarcz (Companhia das Letras) e o arquiteto Mauro Munhoz (hoje da Associação Casa Azul). Foi daquela viagem que partiu a decisão em organizar um festival semelhante no Brasil.

Hay-on-Wye tem cerca de 1.500 moradores, 30 sebos e nela se encontram faixas afixadas em frente das livrarias com esse tipo de dizer: “Kindles estão banidos do reino de Hay.” Como que originário de uma obra ficcional, a história do festival deve muito à arte do blefe de seu fundador. Peter Florence ganhara uma fortuna jogando pôquer e com ela decidiu criar um festival de letras. Por sua vez, o fato de Liz Calder ter descoberto “Harry Potter” deu a ela a moral para bancar e apostar na FLIP.

“Os diretores de programa de um festival literário devem estar cientes das novas escritas e publicações em tantas partes do mundo quanto for possível. E é claro que isso vai significar correr riscos, porque não é possível ter certeza de que qualquer combinação particular de escritores vai produzir eventos interessantes. Um curador deve ter imaginação, ler vorazmente, ter coragem, fazer contatos em outros festivais e comunidades de publicação e seguir seus instintos”, dimensiona Liz Calder o grau de audácia presente em um processo de curadoria.

Embora a celebridade da FLIP tenha alavancado em processos tradicionais de difusão do livro e nas movimentações em prol da leitura, um de seus méritos foi conseguir agregar massa crítica e visibilidade midiática. Em 2014, por exemplo, antes da FLIP começar, a capa da revista Serafina (encarte mensal da Folha de S.Paulo) estampava um retrato de Michael Pollan composto por cereais, ervas e legumes. O autor era um dos convidados internacionais do festival. Um dia antes de acabar a FLIP, a Rede Globo transmitia uma matéria das “ruas cheias de história” de Paraty minutos antes de começar a novela Império com seus quase 35 pontos no Ibope. Novela cujo dramaturgo participou da abertura da FLIP.