Editorial - Cândido 95

Reinaldo Moraes é hoje um dos maiores escritores vivos da língua portuguesa. Há exatos 10 anos ele lançava Pornopopéia (2009), marco da literatura brasileira contemporânea neste início de século XXI — pela ousadia linguística, originalidade narrativa e a divertida fusão entre a alta literatura e o underground paulistano. Depois de um hiato de uma década, ele volta ao romance com Maior que o mundo, narrativa que resgata o clima e a temática de Pornopopéia, agora com outros personagens em uma nova trip.

O jornalista Rodrigo Casarin conversou com Reinaldo Moraes sobre Maior que o mundo e as sequências do romance protagonizado pelo personagem, que deve estar em outros dois livros.

“Fiquei pensando: mais um livro sobre escritor ou sobre artista!? Mas vou fazer o quê, ficar me policiando? O que estava saindo era isso. Quando estou escrevendo não tenho nenhum tipo de polícia: família, filhos, amigos…”, diz o autor, que conversou com Casarin em seu habitat natural: um boteco na Vila Madalena, em São Paulo, a cidade- -personagem que aparece em diversas de suas histórias. As páginas do Cândido ainda trazem uma lista com comentários sobre os livros mais significativos de Moraes e um conto inédito do autor.

Outro destaque desta edição é o bate-papo com o carioca Rodrigo Lacerda (foto), que participou da edição de abril do projeto Um Escritor na Biblioteca. Entre outros assuntos, ele comentou seu interesse pela natureza, que passou a ser uma nova fronteira artística para seu processo de criação. “A natureza passou a ser um repertório infinito de assuntos para mim”, diz o autor que em 2018 lançou uma elogiada coletânea de contos chamada justamente Reserva natural

Este ano o livro Novelas nada exemplares completa 60 anos. O escritor e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luís Bueno revê a obra que colocou Dalton Trevisan entre os principais autores de sua época. “O que a crítica percebeu logo é que Novelas nada exemplares radicalizava de forma ainda não vista entre nós um procedimento de exploração de uma situação, de uma contradição, de uma ambiguidade, ou seja, de elementos que não se desenham bem pelo enredo do conto clássico do século XIX, que tinha em Maupassant (entre nós Machado) seu modelo”, escreve Bueno sobre a recepção da obra por parte da crítica.

Na coluna Pensata, o jornalista e tradutor Christian Schwartz discute as relações entre fato e ficção em obras literárias — e de como a recepção por parte dos leitores ajuda a “qualificar” um livro. “Nas palavras de outro teórico, Gregory Currie, de The nature of fiction [A natureza da ficção], o leitor precisa resolver se acredita (believe) no que lê, ou apenas faz de conta (make believe) que acredita”, escreve Schwartz.

Entre os inéditos, a edição traz um conto de Rodrigo Lacerda, HQ de José Aguiar, poemas de María Auxiliadora Álvarez e Alfonsina Storni, na tradução de Mitsuo Florentino, e Sylvio Back e Carlos Moreira. A arte da capa é de Mário de Alencar.

Boa leitura.