Editorial - Cândido 81

Se a literatura já representa um gueto dentro do cenário cultural, o que dizer de um subgênero como a ficção científica? Ainda que pouco valorizada pela imprensa, prêmios e feiras literárias, a FC brasileira vive um momento de profusão. É isso que mostra o ensaio do escritor Luiz Bras, que é destaque desta edição. 

O título do texto, “Irmandade marginal”, já revela o lugar que os escritores contemporâneos de prosa futurista ocupam na cena literária brasileira. Mas também diz muito sobre como esses autores unem forças para resistir e viabilizar sua produção.

Bras, um incansável divulgador do gênero no Brasil, cita em seu texto os grandes precursores da FC nacional e faz uma linha evolutiva do gênero até chegar à era digital. “Na história literária brasileira, nossa ficção fantástica e nossa ficção sobrenatural conquistaram prestígio institucional e reconhecimento público graças a Murilo Rubião, José J. Veiga, Álvares de Azevedo, Mário de Andrade, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles, Erico Verissimo, Lygia Bojunga e Jorge Miguel Marinho, entre outros”, escreve Bras.

“Nossa ficção científica, no entanto, continua praticamente invisível, apesar do gigantesco número de contistas e romancistas talentosos que se dedicaram e se dedicam ao gênero”, conclui.

       Foto: Daniel Ramalho
maria amélia


Bras também lista os principais subgêneros da FC e escolhe seis livros essenciais para quem quer imergir no inesgotável universo da ficção futurista.

A edição 81 do Cândido também publica a sexta entrevista da série “Os editores”. Maria Amélia Mello (foto), que foi editora de Ferreira Gullar e Campos de Carvalho, entre outros autores que marcam a literatura contemporânea no Brasil, comenta sua trajetória no mercado editorial, percurso focado na preservação da memória e nos autores nacionais. “Acho curioso porque é uma profissão que todo mundo associa ao glamour, à festa e ninguém sabe o trabalho que dá”.

 Em um ensaio, a jornalista e escritora Marleth Silva fala sobre o percurso tortuoso — pessoal e editorial — da contista americana Lucia Berlin. Com uma prosa altamente singular, ela só teve visibilidade após a morte, em 2004.

Na seção de inéditos, o Cândido publica três contos de autores da ficção científica brasileira contemporânea: Santiago Santos, Lúcio Manfredi e Giovanna Picillo. A edição também traz poemas de Maria Dolores Wanderley, Julia Raiz e Pedro Gonzaga, além de um fragmento da HQ Síncope, da artista Aline Zouvi.  

Boa leitura.