Editorial - Cândido 80

Nelson Rodrigues (1912-1980) foi, e ainda é, uma personalidade única da cultura brasileira. Conseguia, e ainda consegue, incomodar esquerda e direita. O jornalista, escritor e dramaturgo deixou um legado desafiador, instigante, atualíssimo, um tanto incompreendido, porém, de inegável consistência.

Quase 40 anos após a morte de Nelson, o Cândido publica um especial, assinado por Alvaro Costa e Silva, o Marechal, a respeito da obra rodrigueana. Na primeira reportagem, Marechal faz uma síntese da produção de Nelson a partir do ponto de vista de autores e intelectuais brasileiros.

O Marechal perguntou aos entrevistados o que Nelson pensaria e escreveria hoje.

As respostas foram as mais variadas. O romancista Alberto Mussa afirma que o escritor, dramaturgo e jornalista atual seria “um conservador humanista ou um capitalista de esquerda”. O ensaísta e cronista Gustavo Nogy acredita que ele manteria a mesma postura: “Liberal demais para conservadores, conservador demais para liberais, repugnante para ambos”. Já o escritor Marcelo Mirisola não tem dúvida: “Nelson seria linchado e queimado em todas as fogueiras, à esquerda e à direita”.

No segundo texto, há uma relação de montagens, edições e traduções da obra do autor, todas — em alguma medida — impulsionadas pela publicação, há 26 anos, da biografia O anjo pornográfico, de Ruy Castro, que desencadeou a redescoberta da obra rodrigueana — e em breve vai virar filme e peça de teatro. O especial ainda traz duas páginas com algumas das mais polêmicas frases de Nelson, entre as quais: “Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta”.

            Foto: Kraw Penas
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A quinta entrevista da série “Os Editores” apresenta Eduardo Lacerda. Em conversa com João Varella, ele conta sua saga à frente da Patuá, editora independente que em 7 anos já publicou mais de 550 títulos, conquistou alguns dos principais prêmios literários do país e tem como ponto de venda um bar, idealizado pelo “faz-tudo” que já foi camelô, quis ser professor e aposta no sucesso de seus autores.

Outro destaque da edição é uma reportagem sobre a publicação de Forte apache, livro que reúne um inédito e dois títulos já publicados anteriormente por Marcelo Montenegro, paulista de 46 anos. A obra sai com o aval da Companhia das Letras, empresa que edita nomes consagrados da poesia brasileira e internacional, o que deve proporcionar visibilidade à produção de um autor, até o momento, conhecido principalmente por poetas, jornalistas, atores e músicos.  

Cândido publica um fragmento do Roteiro Literário — Helena Kolody, de Luísa Cristina dos Santos Fontes. Projeto da Biblioteca Pública do Paraná, o livro faz parte de uma coleção em que cada título traz um ensaio e uma relação de locais frequentados por um autor paranaense já falecido. Em 2017, a Biblioteca lançou a primeira obra da série, sobre Jamil Snege, conteúdo produzido por Miguel Sanches Neto. Neste ano, além do volume sobre Helena Kolody, a Biblioteca também edita o Roteiro Literário — Paulo Leminski, escrito por Rodrigo Garcia Lopes.

O escritor e professor da UFMG Lusi Alberto Brandão apresenta, na seção Memória Literária, um ensaio sobre João Gilberto Noll [foto], morto há um ano. E na seção Cliques em Curitiba, curvas da capital paranaense captadas por Mariana Canet.

Entre os inéditos, poemas de Bruna Kalil Othero e Marco de Menezes e um fragmento do romance Setenta, de Henrique Schneider, vencedor do Prêmio Paraná de Literatura 2017. Schneider também concedeu entrevista ao Cândido e fala sobre o seu livro, que problematiza a ditadura militar brasileira.