Editorial - Cândido 70

Uma das obras mais ousadas e instigantes da literatura brasileira, Mar paraguayo completa 25 anos em 2017. Nesta edição o Cândido destaca o romance e seu autor, Wilson Bueno. Escrito em uma linguagem híbrida, que mistura português, espanhol e guarani, o livro tornou-se um marco da ficção nacional ao dialogar — temática e esteticamente — com obras icônicas, como Grande sertão veredas e Macunaíma
Mesmo esgotado e sem previsão de relançamento no Brasil, o livro segue reverberando, inclusive no exterior. Neste ano, traduções da obra serão lançadas nos Estados Unidos e na França. Tal interesse, segundo os professores ouvidos pela reportagem, provém da mistura de gêneros e linguagens proposta por Bueno. Afinal, a narrativa se baseia em uma zona de fronteira cultural e linguística. É, ao mesmo tempo, romance, novela e poesia.

Autor de 16 livros, Bueno experimentou os mais diversos gêneros literários para compor sua obra. Foi um criador inquieto. O Cândido mostra como as obsessões literárias do autor se manisfestaram em vários de seus romances, a exemplo de Meu tio Roseno, a cavalo, um tributo à genialidade de Guimarães Rosa. Amigo de Bueno na infância, o jornalista e escritor Luiz Manfredini mostra, em primeira mão, um capítulo da biografia romanceada que prepara sobre o autor de Mano, a noite está velha

A edição de maio também traz outros destaques. Paulo Venturelli foi o segundo convidado do projeto Um escritor na Biblioteca em 2017. Autor de 23 livros, o escritor conversou com o jornalista José Carlos Fernandes sobre sua militância literária ao longo de quatro décadas.

O jornalista e tradutor Christian Schwartz, em ensaio inédito, explica como a sátira, gênero praticado por figuras como Jonathan Swift no século XVIII, está presente hoje não só na literatura, mas no discurso político, na publicidade e nas redes sociais. No Brasil, Lima Barreto foi um dos autores que se utilizou da sátira para contestar e ridicularizar questões de sua época. Felipe Botelho Corrêa, pesquisador e professor no King’s College London, escreve sobre esse traço, presente em grande parte da obra barretiana.

Já o crítico José Castello reflete sobre a literatura de Ricardo Piglia (foto), morto em janeiro deste ano. A partir do livro Nome falso, de 1975, Castello demonstra como o argentino escreveu “ficções que escapam a nossos esforços inúteis de classificação e adestramento”.

Entre os inéditos, a edição traz poema de Ronald Augusto e conto de Otavio Linhares. 

Boa Leitura.

Divulgação
Ricardo Piglia