Editorial — Cândido 58


A segmentação do mercado, intensificada nos últimos anos, também chegou ao setor editorial. Livros sob demanda, edições artesanais e novas estratégias de venda ganharam corpo a partir do surgimento de uma geração de editores independentes que hoje, com seus negócios, formam uma cena de microeditoras espalhadas por várias regiões do Brasil. 

O Cândido entrevistou alguns desses profissionais, em sua maioria também artistas — escritores, poetas e designers. Motivados pela popularização da internet e de novas técnicas de impressão, eles acreditam que podem subverter regras do mercado editorial em benefício não só da viabilidade econômica do negócio, mas também da própria realização artística. Em outras palavras, são editoras profissionais, mas que mantêm o espírito livre dos antigos zines. 

Dentro desse nicho, a editora Patuá é uma referência. Fundada há pouco mais de cinco anos, já conta com 350 títulos publicados. Seu editor, Eduardo Lacerda, percorre o país para lançar autores da casa (são pelo menos 10 eventos por mês). “A loja virtual representa uma boa parte do faturamento, mas eu dependo muito dos lançamentos para fechar as contas”, diz. 

A proximidade entre escritores e o público consumidor, estratégias alternativas de distribuição e até a abertura de espaços para lançamentos e oficinas são recursos utilizados por editoras como Lote 42 (SP), Mondrongo (BA), Arte & Letra (PR) e Livrinho de Papel Finíssimo (PE), todas ouvidas pela reportagem. 

Um dos precursores dessa geração, Sergio Cohn fundou a editora Azougue na metade dos anos 1990 e continua na ativa. Em texto escrito a pedido do Cândido, ele conta como se mantém fiel aos preceitos que o levaram a começar sua empreitada editorial mesmo diante de desafios imensos para viabilizar o negócio. 

A edição 58 do Cândido ainda traz outros conteúdos. Uma reportagem assinada por Marcio Renato dos Santos relembra os 100 anos de nascimento de Murilo Rubião, escritor mineiro que, mesmo com uma obra enxuta, composta por apenas 33 contos, marcou seu nome na literatura brasileira do século XX e é uma das principais referências da narrativa breve no país. 

Outra autora já clássica, Adélia Prado, fala, em entrevista, sobre os 40 anos de Bagagem, seu livro de estreia. Em comemoração aos 80 anos da poeta, a editora Record lançou recentemente Poesia reunida, que compila os oito livros de poesia da mineira publicados ao longo das últimas quatro décadas. No bate-papo, Adélia também revê seu percurso literário, fala de suas influências e do legado de sua poesia. 

Na seção que apresenta bibliotecas particulares, o professor universitário Benedito Costa mostra seu acervo, constituído por obras literárias e livros de fotografia, cinema e artes plásticas. Entre os inéditos, conto de Deonísio da Silva e poemas de Gerson Maciel e Hildeberto Barbosa Filho. 

Boa leitura.