Editorial

Há pelo menos dez anos o Brasil viu crescer o interesse por um gênero que tem sua origem nos romances da segunda metade do século século XIX, em que se verificou a ascensão do realismo na ficção. Trata-se daquelas narrativas de “não ficção” que, devido sua qualidade estética, ganharam status de obra literária. Ainda que essa relação entre jornalismo e literatura remeta aos romances de Charles Dickens e Balzac e, no campo nacional, à obra mais importante de Euclides da Cunha, Os sertões, foi com a geração de Truman Capote e Tom Wolfe que a literatura feita a partir de fatos jornalísticos passou a ser reconhecida como um gênero literário, ganhando fama e leitores sob a controversa alcunha de “jornalismo literário”.

É sobre essa definição ainda nebulosa e o crescente interesse dos leitores brasileiros por essa literatura, abrigada em uma zona cinzenta entre ficção e jornalismo, que escreve Sergio Vilas-Boas, um dos nossos maiores especialistas no assunto. “No Brasil, o contexto nunca foi tão favorável ao estudo e à prática do jornalismo literário”, diz o autor de Biografismo. “O lançamento de revistas como Piauí, Brasileiros e Rolling Stone, na década passada, também ajudou a reacender o interesse do público pela narrativa jornalística detalhada, fortalecida por componentes literários. A receptividade foi tanta que muita gente até pensou que se tratava de uma coisa nova. Mas o JL existe há mais de um século.”

A edição de fevereiro do Cândido ainda traz entrevista com a jornalista e escritora Eliane Brum, matéria sobre as revistas mais importantes do Paraná no século XX e os melhores momentos do papo que o jornalista e escritor Luís Henrique Pellanda teve com Sérgio Sant'Anna, no oitavo encontro do projeto “Um Escritor na Biblioteca” em 2011. A família Sant'Anna ainda aparece na seção de inéditos, com conto de André Sant'Anna, filho de Sérgio.

Boa leitura a todos.