Editorial

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Este ano a Balada Literária, evento que movimenta a agenda cultural de São Paulo no segundo semestre, vai homenagear Caio Fernando Abreu (1948-1996). A escolha de Marcelino Freire, escritor, idealizador e organizador da Balada, deve chamar a atenção do público, e da imprensa, para o legado do escritor gaúcho, morto há 20 anos, cada vez mais lido, discutido e, sem exagero, badalado.

O poeta, crítico e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Italo Moriconi afirma que Daniel Galera, no romance Barba ensopada de sangue, dialoga — obliquamente — com um imaginário-Garopaba inaugurado, entre outros, por Caio Fernando Abreu. Além de Galera, jovem escritor reconhecido pela crítica, jovens leitores dão likes e compartilham frases de Caio nas redes sociais.
 
Caio F., como ele costuma assinar cartas e bilhetes, escreveu e publicou muito. Romances, textos para teatro, novelas, crônicas e, principalmente, contos. “Os assuntos são sempre os afetos. Mais que propriamente as paixões, são os afetos”, diz Moriconi.

Além de Moriconi, a reportagem do Cândido entrevistou outros estudiosos. Thais Torres de Souza diz que um dos temas centrais da obra escritor é o erotismo. A partir do pressuposto, ela elaborou a tese de doutorado Uma vaga promessa: aspectos do erotismo em contos de Caio Fernando Abreu, defendida em 2014 na Universidade de São Paulo (USP).

Já Nelson Luís Barbosa, autor da primeira tese de doutorado defendida na USP, em 2008, estudou a presença do autor em sua própria ficção, entendendo- a como uma construção autoficcional, uma forma de escrita que supera qualquer abordagem autobiográfica no sentido de que o autor não pretende, com a obra, contar fatos de sua vida pessoal a partir de um suposto “pacto de verdade”. O estudo acadêmico, Infinitivamente pessoal: a autoficção de Caio Fernando Abreu, o biógrafo da emoção, será publicado em forma de livro ainda no primeiro semestre de 2016.

A professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Tânia Pellegrini explica que Caio dialogou literariamente com 2 renomados autores brasileiros. “O mais claro diálogo [de Caio] acontece com Clarice Lispector, de quem herda o mergulho nas profundezas da subjetividade”, afirma, acrescentando que outra interlocução do escritor se dá com Graciliano Ramos e a sua meticulosa metodologia construtiva.

Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM, conta de que maneira conheceu o escritor e também faz uma análise da literatura de Caio: “Sua obra se caracterizava por um extremo apuro formal e temática cosmopolita, na medida em que ele foi um escritor urbano, o que não era comum na época no Brasil. Caio estava mais para o rock and roll enquanto a maioria dos autores buscava a tal ‘brasilidade’ no romance histórico ou no romance regionalista.”

O especial ainda traz uma leitura de Para sempre teu, Caio F., obra em que a jornalista Paula Dip apresenta a trajetória do escritor, principalmente a partir do momento em que eles se conheceram, no fim dos anos 1970 em São Paulo — além da indicação de 6 dos mais importantes livros de Caio.

Boa leitura!